MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DE MEMÓRIAS E VITÓRIAS: NOSSAS MARATONAS INTERIORES

    "... o peso dessa maratona interior será tão importante 
como os quilômetros destas ruas e como o calor deste sol..."

     Hoje eu estava querendo escrever alguma coisa, mas ainda não havia encontrado o pontinho de luz que me inspiraria uma crônica. Porque as crônicas são textos que surgem de um pequeno fato cotidiano, por mais banal que ele possa parecer,  que nos leva a refletir sobre ele ou sobre a vida. "Na literatura e no jornalismo, uma crônica é uma narração curta, produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal [seja nas páginas virtuais... ora]. Possui assim uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se, assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem". Perfeita essa definição da crônica, porque já não escrevo mais só por escrever - na verdade, isso nunca acontece com quem escreve, o escritor sempre imagina e espera por um leitor -, eu escrevo para os seguidores do meu blog e para os leitores possíveis que, por acaso, podem ser encaminhados para minha página nessa rede ilimitada que é a internet... Eu escrevo para criar familiaridade com você que me lê agora...
     Mas, voltando ao pontinho de luz que me fez abrir esta página para escrever: enquanto pensava sobre o que falar, recebi um e-mail de um amigo corredor, lembrando-me que, há exatamente um ano, eu fazia meu primeiro trajeto de 21km, e ele me deu um apoio incrível... Puxa, que bacana isso! Que recordação gostosa! Foi uma experiência linda, senti-me vitoriosa... Isso porque eu sonhava,  no início de 2011, em correr minha primeira meia maratona. O que aconteceu em julho: corri a Golden Four em BH... Mas tão boa quanto a sensação de completar a Golden Four, foi  a sensação de fazer aquele treino de 21km... Vocês que correm sabem do que estou falando... do sentimento de vitória, mesmo sem medalhas, sem ninguém para ver ou aplaudir. A vitória é interna... é visceral... é daquelas que a gente se pega sorrindo sozinho... lembrando os momentos... E quantos treinos de 21km vieram depois daquele!!!  Quantas meias maratonas eu realizei ano passado sozinha, ou com amigos e colegas corredores... Quantos... e por quê?

"Por quê? Se não há medalhas, nem troféus; se não tem torcida, aplausos, nem hino de vitória... Só o silêncio. Por que então? Se não há dinheiro, nem contratos; se não tem flashs, câmeras, nem pódio, nem glória... Talvez só uma luz. Onde estão as pistas, os campos, os estádios? Onde estão os adversários, os rivais? Onde está o tempo? E o limite, onde está o limite? JUST RUN! Porque correr é mais do que um esporte, é uma paixão"

     É por paixão que a gente corre... é por paixão que a gente vai estabelecendo nossas metas... Lembro-me de minha primeira planilha: 4min de caminhada e um de corrida... e era um sacrifício!!! Aquele 1min era longoooooooo, parecia mesmo um longão... Respiração difícil, coração disparado, rosto pegando fogo... Ah, que boas lembranças!!! Depois, quando fui pegando gosto, a ordem se inverteu, ficava louca para que chegasse o tal 1min de corrida... e os 4min de caminhada é que se tornaram um tempo longooooo... Depois o tempo de corrida foi aumentando, o de caminhada diminuindo... e veio a vontade de conseguir completar uma volta na UFJF... depois 5km... depois o sonho dos 10km... e o dos 21km... e agora? Bom, agora o sonho dos 42km... Mas antes preciso passar pelos 25km... pelos 30km... pelos 35km.... sem nunca esquecer que às vezes é preciso voltar aos 10km... aos 5km.... a uma caminhada.... ao descanso... à humildade....
     Humildade de olhar e de reconhecer o que estamos fazendo... humildade de estar em comunhão com os próprios pensamentos... humildade de correr dentro de nós mesmos e de vencermos trajetos interiores, com longões, tiros e subidas... 

"Na meta, a distância e o peso dessa maratona interior serão tão importantes como os quilômetros destas ruas e como o calor deste sol. Enquanto levanto um pé para dar uma passada, o outro pé segura-se ao chão. Se o mundo parasse no instante em que tenho um pé levantado, a avançar, e outro pé assente no chão, poderiam crescer raízes a partir desse pé firme que me segura. Essas raízes poderiam entranhar-se pelos intervalos de terra das pedras da rua. Mas eu não deixo que o mundo pare. Depois de uma passada, outra, outra" (PEIXOTO, José Luís. Cemitério de pianos. Rio de Janeiro: Record, 2008, p. 144-145).

     Quanta coisa passa pela nossa cabeça enquanto corremos...... Inclusive a vontade de criar raízes... Mas é preciso terreno muito sólido para que as raízes se firmem.... E como os terrenos têm sido movediços hoje em dia!!! Então, o que devemos fazer é empurrar o mundo, não deixar que ele pare, não deixar que raízes frágeis surjam, dificultando nossa caminhada... É preciso um passo, e outro, e outro... Um quilômetro, e mais um, e mais um.... Um sonho, e outro sonho, e outro sonho... E uma meta para nos manter em movimento. 
     E para alcançar a meta: 'Bora correr, meus  amigos!!!



8 comentários:

  1. O processo é este Lilian, Keep running and writing!
    Bom demais!
    Grande abraço,

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  2. Olá Lílian. Aqui estou mais uma vez paralisado diante de mais uma emocionante crônica. Ainda bem que me encontro em recuperação, "preso" numa cama e tendo ao alcance das mãos o computador e obtendo ótimas leituras. Continue apreciando seus desafios para vencer derrapagens inevitáveis e transpor curvas imprevisíveis, assim são os treinos diários... superação... até descobrir novas metas!
    Que venha a sua maratona!
    bjs

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  3. Obrigada, Gedair, por mais uma visita e mais um comentário carinhoso!!!! Não se sinta "preso", pense que é somente um momento de descanso forçado... Os desafios existem para serem enfrentados, não é mesmo? As derrapagens para serem superadas e as curvas para serem percorridas.... Que venha a maratona!!!! Bjs!!!

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  4. Lilian, a gente se constrói. Vale a história dos 3 porquinhos! Parabéns e beijos!

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  5. Oi, Gui Ronzani!!! Que bom vc por aqui!!! Obrigada pela visita e pelo comentário!!! Com certeza: a gente se constrói!!! E somos resultado do que fazemos de nós!!!! Bjs!!! Volte sempre!!!

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    1. Oi, Lilian!
      Gostei das suas palavras...em epecial da "maratona interior",quem sabe esta não é tão longa ou maior que a outra? Uma "ultramaratona", às vezes... Estamos treinando para a maratona que exige um esforço e comprometimento com o corpo físico, em primeira instância. Mas, a mente está ali, no topo da importância nos ajudando com essas questões interiores que contarão sobremodo na hora de atravessar os quilometros desejados.. "O corpo segue a mente". Muito interessante tb é a comparação que o Gui Ronzani faz com "Os Três Porquinhos"... até a casa definitiva, algumas outras serão derrubadas, fragilidades vencidas, limites alargados. É, é um percurso de destruição-construção de nós mesmos e até de nosso olhar frente à vida e às pessoas. Estamos indo, a caminho, na estrada, sob sol, sob a chuva, treinando...derrubando e erguendo casas e vamos chegar, será linda a construção final! Bjs! Boa semana!

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  6. Você tem razão, Raquel, vivemos, frequentemente, verdadeiras ultramaratonas interiores... E elas precisam ser encaradas para que estejamos bem para percorrermos as exteriores... Só conseguimos vencer o que está de fora, se estivermos vitoriosos por dentro... É isso mesmo: construções e descontruções são realizadas constantemente na nossa vida... Há muitos lobos maus derrubando nossas "casas", para que possamos sair correndo para construir outra e mais outra e mais outra... E essa é a vida: construções/descontruções necessárias para que aprendamos a nos conhecer e a conhecer o que nos rodeia... Como você disse, seguimos nosso caminho, sob sol, sob chuva, derrubando e erguendo o que for necessário para a construção final!!! Bjs!!!! Volte sempre!!! Adoro sua interação!!!

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