MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

domingo, 20 de janeiro de 2013

A SÃO SILVESTRE DE CADA UM DE NÓS....

Foi preciso deixar passar alguns dias, deixar as emoções se acomodarem, para poder escrever sobre a Corrida de São Silvestre. Desde que comecei a correr, há quase 3 anos, que as pessoas me perguntavam se eu já havia feito a São Silvestre e, quando eu dizia que não, elas pareciam decepcionadas... Eu procurava explicar que já havia feito corridas mais longas e que, para mim, eram de peso muito maior, como meia maratona e maratona. Mas, ainda assim, as pessoas se mostravam insatisfeitas. Pareciam pensar: "Mas que corredora é você que não correu a São Silvestre?". O mais engraçado é que são pessoas que não correm... Foi quando eu comecei a procurar entender o que a São Silvestre teria de diferente ou especial...

Em 2011, cheguei a me inscrever para a prova, queria ter a São Silvestre no currículo para poder responder: "Sim, eu já corri a São Silvestre!". Mas, por motivos alheios à minha vontade, acabei não indo; e assisti à corrida com um aperto no peito muito grande. Era para eu estar lá, mas eu não estava... Mas veio 2012, muita coisa mudou em minha vida e lá estava eu, entre 25 mil corredores... Uma prova para não pensar em tempo, eu queria curtir, percorrer aqueles 15 km como uma celebração do ano que findava e que me trouxera tantas experiências boas...

Manhã do dia 31 de dezembro, Avenida Paulista. Um mar de corredores tomando conta do espaço. Bonito de se ver. Emocionante de participar. Estar ali era de fato uma celebração. A celebração de uma vida melhor, mais saudável. De uma vida que, hoje, pesa menos no corpo, nos ombros, na alma... De uma vida que requer disciplina e determinação... De uma vida que faz de mim uma mulher mais feliz e realizada....

Estar ali era olhar para trás, para a moça que saiu da casa da família, há 5 anos, com 30 kg a mais, e recordar a mudança pela qual havia passado: a matrícula em uma academia, muito suor enxugado em cada aula de jump, spinning, step... Cada músculo dolorido que tentava ocupar o espaço que ia sendo deixado livre sob a pele à medida que eu emagrecia... Estar ali era lembrar a moça, já magra, começando a dar seus primeiros trotes de 1 min infindável; 1 min em que o corpo clamava por um oxigênio que parecia faltar; 1 min em que as pernas imploravam para parar... E o tempo foi passando, e aquele minuto foi aumentando e deixou de ser contado em tempo para ser medido em distância: 1 km, 2 km, 3 km, 4 km, 5 km (e a estreia em provas), 10 km, 16 km, 21 km (o sonho da meia maratona) e o desejo maior dos 42 km (aquele minuto foi se multiplicando, multiplicando e chegou a 4h24min)...

Aquela Lílian que foi criada no interior não podia imaginar que sairia de lá rumo a uma vida literalmente corrida... Virou corredora, virou maratonista, foi ser feliz em outras paragens e chegou à São Silvestre para relembrar tudo isso e celebrar...

Hoje eu entendo que eu precisava viver o clima da São Silvestre. Estar ali é mágico. Há uma aura sobre esta corrida. Talvez pela data, pela quantidade de pessoas, pela tradição... Foi a única corrida até hoje que eu desejei que não acabasse...Correria mais e mais quilômetros curtindo cada rua, a companhia da amiga Gleice Medeiros, as diferentes pessoas pelo caminho. E quantas diferenças: jovens, idosos, magros, gordinhos, deficientes, diferentes raças e nacionalidades: mas todos unidos pela corrida.

Entre aquelas 25 mil pessoas, 25 mil novos capítulos de vida estavam sendo escritos ali. O meu foi um capítulo ao estilo flashback, para olhar para trás e agradecer demais o presente e me manter firme em meus propósitos e valores para ter um futuro ainda melhor... O relato de amigos comprova isso, sentimos a emoção que eles sentiram também quando lemos suas palavras ou vemos suas imagens:


"Era uma vez uma garotinha tímida e franzina, lá do interior da Bahia, que todos os anos, desde que se entendeu por gente, se “plantava” na frente da TV no último dia de dezembro para assistir à Corrida de São Silvestre. Ela não entendia o porquê, mas vibrava com a corrida, e sempre repetia: um dia eu vou correr aí. Com o passar dos anos, ela se mudou para o Espírito Santo, foi sendo engolida pela vida e o sonho foi parar no fundo da gaveta da memória. E todos os anos, no último dia de dezembro, depois de assistir a “São Silvestre”, ela abria a gaveta, olhava para o sonho e repetia: um dia eu vou correr aí. O tempo passou, e um belo dia a garotinha tímida e franzina, agora já na metade da vida, foi picada pelo bichinho da corrida. E correu, e correu, e gostou, e correu muito mais. E encontrou um bando de loucos que corriam, e fez muitos amigos, e correu mais e mais. Correu tanto que passou a acreditar que o sonho da menina tímida e franzina poderia sair definitivamente da gaveta da memória e se mudar para o mundo real. Em 31.12.12 ela correu a São Silvestre... com lágrimas nos olhos e o coração na boca. De vez em quando ainda abre a gaveta, só pra confirmar se o sonho saiu mesmo de lá. É que nem ela acredita..." (Eubenes Moreira)


"Ela nem estava nos meus sonhos, mas não é que ela foi um sonho de corrida! (...) Chegar de viagem e ouvir da minha mãe que não conseguiu assistir a São Silvestre... Pq chorava de emoção e de orgulho por saber que eu estava lá, sem sombra de duvida não tem preço... Ela sabe por tudo que passei e o que sou hoje... E saber que ela tem orgulho de mim é bom de mais da conta, sô!!!"(Gleice Medeiros)


"Me lembro muito bem do dia 31 do ano passado [2011] eu sentado num sofá em Marataízes, chorando por não estar na São Silvestre. Hj choro por estar aqui!!! Obrigado, Senhor!" (Thiago Pateta)



E o relato em vídeo, do amigo Maximilian Garcia de Barros:


E a gente vai levando a vida assim: sendo feliz à nossa maneira. Escrevendo capítulos emocionantes para nossa história....

sábado, 19 de janeiro de 2013

UM CORRIDO ANO-NOVO PARA TODOS NÓS! (Texto escrito para a coluna "Pé no chão", de Julius Carvalho em A Gazeta, de Vitória, dia 12/01/13)


Fiquei pensando muito sobre o que escreveria para vocês nesta minha primeira participação aqui na coluna “Pé na Rua”, em 2013. Entretanto, escrever com emoção não combina com pensar, por isso eu vou deixar a emoção fluir e as palavras e ideias combinarem entre si...
Início de ano é sempre a mesma coisa, fazemos planos, traçamos objetivos, começamos dieta, e academia, e treinos... Prometemos fazer isso e não mais fazer aquilo... Sonhamos correr mais ou melhor...  Começamos a namorar algumas corridas: “Será que eu me inscrevo em minha primeira prova?” /  “Será que consigo esta?” / “Será que terei grana para aquela?” /  “Será que eu me arrisco em uma maratona?” / “Será que entro para uma assessoria?” Será? Será? Será? Penso que esses questionamentos nos servem como mola propulsora para ações que poderão – se não modificar nossa vida – nos fazer mais felizes e realizados. Porque é disto que precisamos na verdade: de felicidade e realização; e não falo do lado material, mas de nossa realização enquanto seres humanos. Somos seres frágeis, buscando sonhos árduos. Somos seres fortes, fragilizados pelas emoções. Mas somos, sobretudo, seres desejosos: de vida, de felicidade, de satisfações, de amores...
Quer saber? Faça por onde transformar esses “serás” em sonhos realizados... Eu já estabeleci o meu para as corridas deste ano e para alcançá-lo vou precisar abrir mão de muitos outros, de muitas corridas. Mas tudo na vida é feito de escolhas, não é mesmo? Escolha seu sonho maior para 2013 e corra literalmente atrás dele, até chegar ao ponto em que você não estará mais atrás dele, mas junto com ele, experimentando-o, realizando-o. Depois, você vai ultrapassá-lo e olhar para trás cheio de orgulho, quando vir que conseguiu o que tanto queria...  Então, que venham a segunda quinzena do ano, o próximo mês, e o outro, e o outro... E que 2013  nos encontre preparados para nossas travessias, nossas linhas de largada e chegada... ‘Bora, meus amigos, correr por aí, porque não nascemos para ficar parados! Não mesmo!!!

UM DOURADO SORRISO MOLHADO... (Texto publicado no jornal A Gazeta de Vitória, Revista AG, em 06/01/2012)


Um amanhecer. Uma menina. Uma bicicleta... E o que era para ser apenas uma pedalada pela orla virou um momento de explosão... Uma explosão interna, uma epifania de humanidade...

Sabe quando um momento que era para ser corriqueiro toma a proporção de uma vida? Quando você se pega envolvido de tal forma em uma situação que não consegue se desvencilhar dela? Aquele sol brilhando sobre o mar, refletindo uma luz dourada, foi me tomando de tal modo que pareceu me sufocar. Criou uma espécie de bola de energia no meu peito, que foi inchando, inchando e despertou em mim sentimentos incontroláveis... Uma vontade enorme de agradecer pela vida, por aquele momento... Um momento tão todo-dia, tão todo-mundo e de repente tão-único, tão-meu... E eu não sabia se continuava pedalando ou se parava... E aquele acúmulo de energia dentro de mim começou a se desprender em forma de lágrimas... E a vista foi ficando embaçada e a garganta e o peito sufocados... Mas ao mesmo tempo eu sorria... Sim, eu sorria... E pedalava e sorria e lacrimejava... Como numa epifania, aquele foi meu grande momento... O momento em que me descobri viva... Pequena diante daquela emoção; grande por me sentir pulsante... Um pontinho insignificante debaixo daquela imensidão de azul e dourado; um ser em êxtase tomado por tanta energia...  
São momentos assim que nos fazem mais humanos, desde que não estejamos imersos na engrenagem do dia a dia, robotizados pelo universo capitalista. Desde que tiremos alguns minutos para apreciar o que há de belo num mundo em que insistimos em ver o lado feio. Que nos momentos de transição (2012-2013), nossa retrospectiva não selecione apenas nem majoritariamente os acontecimentos negativos. É preciso ver os saldos positivos. É preciso se sentir humano, se fazer humano, se permitir SER humano... Sentindo o raio do sol sobre a pele, inebriando-se com o azul do céu de verão, refrescando-se com a brisa marítima, sentindo os pés afundarem-se na areia úmida, recém-beijada por uma onda que se esquiva de nossas passadas. É preciso ouvir os sorrisos das crianças, ler os bons-dias dos estranhos, tocar o cantar dos pássaros... É preciso um instante de silêncio, de solidão, de imersão egoísta em nosso ser: sem máquinas, sem computadores e celulares, sem redes sociais, para que momentos tão todo-dia, tão todo-mundo, tornem-se tão-únicos e tão-íntimos. Para  que o homo sapiens, tão dominador de tudo, tão dominador de todos, seja capaz de se entregar às emoções e deixar, que seja por minutos apenas, ser dominado pela humanidade que há em si.
Um amanhecer.
Uma menina.
Uma bicicleta.
 E um dourado sorriso molhado pelo caminho...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

POR QUE CORREMOS? (Texto publicado no jornal A gazeta (Vitória), na coluna "Pé no chão", de Julius Carvalho)




Por que eu corro? Por que você corre? Por que nós corremos? Não, este não é um texto sobre conjugação verbal... Não é a professora de Português que há em mim que escreve... Quem escreve é a corredora e, por isso, este é um texto sobre paixão, sobre adrenalina, sobre endorfina... Sobre este vício que nos deixa “ligados”,  que nos faz madrugar, que nos leva de um lugar a outro para treinos e provas,  que às vezes nos faz viajar 500 km / 1000 km para correr 10 km / 20 km.... É um texto para falar de entrega, de amizades, de prazer... Falar de superação, objetivos, diversão... Expectativas, encontros, abraços e sorrisos... Falar de suor, de músculos cansados, de grito eclodindo do fundo do peito... É um texto para falar de identidade...
Por que eu corro? Porque a corrida se entranhou em mim de tal modo, que se fundiu tanto a meus “eus”, que falar de mim é necessariamente falar da corredora... Por que você corre? Se você está lendo esta página, acredito não ser por acaso... Deve haver em você um pouquinho (ou muito, “muitão”  mesmo) dessa identidade que é tão minha e de tanta gente... Por que nós corremos? Ora, porque sem a corrida nós não somos mais tão completos, não somos mais tão plenos, não somos mais tão felizes....