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sábado, 19 de janeiro de 2013

UM DOURADO SORRISO MOLHADO... (Texto publicado no jornal A Gazeta de Vitória, Revista AG, em 06/01/2012)


Um amanhecer. Uma menina. Uma bicicleta... E o que era para ser apenas uma pedalada pela orla virou um momento de explosão... Uma explosão interna, uma epifania de humanidade...

Sabe quando um momento que era para ser corriqueiro toma a proporção de uma vida? Quando você se pega envolvido de tal forma em uma situação que não consegue se desvencilhar dela? Aquele sol brilhando sobre o mar, refletindo uma luz dourada, foi me tomando de tal modo que pareceu me sufocar. Criou uma espécie de bola de energia no meu peito, que foi inchando, inchando e despertou em mim sentimentos incontroláveis... Uma vontade enorme de agradecer pela vida, por aquele momento... Um momento tão todo-dia, tão todo-mundo e de repente tão-único, tão-meu... E eu não sabia se continuava pedalando ou se parava... E aquele acúmulo de energia dentro de mim começou a se desprender em forma de lágrimas... E a vista foi ficando embaçada e a garganta e o peito sufocados... Mas ao mesmo tempo eu sorria... Sim, eu sorria... E pedalava e sorria e lacrimejava... Como numa epifania, aquele foi meu grande momento... O momento em que me descobri viva... Pequena diante daquela emoção; grande por me sentir pulsante... Um pontinho insignificante debaixo daquela imensidão de azul e dourado; um ser em êxtase tomado por tanta energia...  
São momentos assim que nos fazem mais humanos, desde que não estejamos imersos na engrenagem do dia a dia, robotizados pelo universo capitalista. Desde que tiremos alguns minutos para apreciar o que há de belo num mundo em que insistimos em ver o lado feio. Que nos momentos de transição (2012-2013), nossa retrospectiva não selecione apenas nem majoritariamente os acontecimentos negativos. É preciso ver os saldos positivos. É preciso se sentir humano, se fazer humano, se permitir SER humano... Sentindo o raio do sol sobre a pele, inebriando-se com o azul do céu de verão, refrescando-se com a brisa marítima, sentindo os pés afundarem-se na areia úmida, recém-beijada por uma onda que se esquiva de nossas passadas. É preciso ouvir os sorrisos das crianças, ler os bons-dias dos estranhos, tocar o cantar dos pássaros... É preciso um instante de silêncio, de solidão, de imersão egoísta em nosso ser: sem máquinas, sem computadores e celulares, sem redes sociais, para que momentos tão todo-dia, tão todo-mundo, tornem-se tão-únicos e tão-íntimos. Para  que o homo sapiens, tão dominador de tudo, tão dominador de todos, seja capaz de se entregar às emoções e deixar, que seja por minutos apenas, ser dominado pela humanidade que há em si.
Um amanhecer.
Uma menina.
Uma bicicleta.
 E um dourado sorriso molhado pelo caminho...

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