MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SOBRE MEDALHAS E VALORES (Crônica publicada na edição nova da revista Boratreinar, nov. 2012)


Olho para a parede, às vezes "viajo" nas medalhas ali expostas, relembrando as histórias encravadas nelas... Quantas histórias! Quantas pessoas especiais se camuflam ali! Batem saudades, a emoção aflora, dizendo para mim que as histórias se passaram sim, mas que bom que elas ficam na memória... E que mesmo que provoquem lágrimas, elas são responsáveis pela mulher que sou hoje, pela corredora que sou hoje, pela escritora que sou hoje... Que bom que elas fazem de mim uma mulher DE SUOR E POESIA...

Os seres humanos têm o hábito de colecionar objetos, os mais inusitados possíveis... Minha coleção mais preciosa no momento é a de medalhas... E hoje me deu vontade de escrever sobre elas... As medalhas que vamos acumulando nas paredes. Na verdade, não é o objeto em si que importa... Importa a história que cada uma das medalhas carrega incrustada nela... Esses objetos, cada um de um tamanho, um formato, uns muito bonitos, outros nem tanto - às vezes com a fita mais bonita que a própria medalha - são a prova visível da estrada que vamos percorrendo neste universo da corrida... É muito suor transpirado, muito treino realizado, muita abdicação... Às vezes, passamos por dores físicas, lesões... Mas também é muita alegria, muita euforia, muita superação... É muita amizade que vamos fazendo pelos caminhos; é muita vida em efervescência que vamos experimentando pelos trajetos...
 As medalhas ficam ali, enfeitando a parede, dando-nos orgulho de nossas conquistas; mas elas pegam pó, às vezes oxidam, vão se desgastando com o tempo... Só que elas dizem muito, mesmo que empoeiradas, mesmo que oxidadas... Sim, elas dizem muito...  Às vezes escolho uma, pego e começo a me lembrar de como foi a corrida, quando foi, com quem eu estava, em que momento da minha vida ela aconteceu... As medalhas funcionam como um diário das nossas corridas...
Cada um de nós escolhe um critério para organizá-las, ou às vezes não adotamos nenhum critério, e elas vão sendo penduradas aleatoriamente... Eu agrupo por diferentes “pesos”, digamos assim: em um porta-medalhas, as que representam as corridas que considero mais marcantes... Em outro, as corridas deste ano; em outro, as demais... E elas vão migrando de um lado para outro à medida que mais corridas vão sendo realizadas...
E não é a quilometragem que importa na classificação das mais marcantes: ao lado da medalha da minha maratona está a medalha dos meus primeiros 5 km... Assim como a dos primeiros  10 km, das primeiras 10 milhas, da primeira meia... E junto a elas estão as medalhas especiais de premiação por faixa etária...  Cada corrida gera uma história única: os primeiros 5 km têm tanto peso quanto os 42 km, dois anos e meio depois... A primeira corrida tem a marca da superação inicial... Aquele estágio em que resolvemos sair do conforto do sedentarismo para uma vida ativa... A marca das primeiras dificuldades, das primeiras dores musculares; mas também das primeiras euforias provocadas pelo “bichinho da corrida”, da primeira emoção de atravessar a linha de chegada... Depois as metas vão aumentando, os desafios também, e cada distância trará suas próprias emoções...
Não é assim, meu amigo leitor? Meu amigo corredor? Não importa quantas medalhas você tenha... Que seja uma... Dê uma olhada diferente para ela hoje... Se você já tem várias, escolha uma aleatoriamente, pegue-a e procure lembrar como foi  a corrida que ela representa... Com quem você estava? Onde aconteceu? Qual era seu objetivo naquele momento? Tem fotos desta corrida? Pegue-as, veja suas expressões: eram de alegria, de cansaço, de esforço? Tente lembrar a emoção que sentiu ao terminar a corrida...
Que bom que somos feitos de lembranças!!! Que bom que alguns objetos no ajudam a reativar essas lembranças!!! Receio que chegue um dia em que o acúmulo das medalhas me faça perder o controle sobre as histórias e as emoções... Mas até esse dia chegar, ‘boratreinar, meus queridos leitores!!! ‘Bora correr e trazer muitas, muitas, muitas histórias para casa!!! ‘Bora colocar no peito muitas emoções!!! ‘Bora enfeitar nossas paredes de amigos, sorrisos, lágrimas e superações!!!
                                                       Foto: Gleice Medeiros

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

MUITO ALÉM DO LADO MATERIAL....

Você corre para quê? Por saúde? Pelas amizades que se constroem? Pela superação? Há pouco tempo "descobri"  ou "me contaram" que, diante de minhas metas, não posso dizer que corro por saúde... Que o esforço a que submeto meu corpo, treinando para os 42 km (ou mais, como já sonho), pensando em um pouquinho mais de velocidade, promove um desgaste físico que não me permite dizer que corro pela saúde... Sei lá... Qual seria o limite entre o que é saudável e o que não é na corrida? Não sei...

Corro pelas amizades? Basta olhar minhas fotos no facebook e perceber o quanto algumas companhias têm se tornado constantes em alguns treinos e corridas... A família de corredores é sempre muito unida e alegre, esta família que encontrei aqui no ES tem só fortalecido essa afirmativa. É uma turma linda de verdade! É minha família em terras capixabas...

E a tal da superação??? Acredito que grande parte dos corredores deseja se superar de alguma forma: aumentar distâncias, velocidade, melhorar suas marcas pessoais... Seja atravessar sua primeira linha de chegada; seja correr mais 100 m, 200 m, 500 m... 1 km... Seja correr a mesma distância em menos tempo ou de modo mais confortável... Qualquer caso desses e outros inúmeros é superação... Cada um sabe da sua e, se para o outro ela pode parecer pequena, para a pessoa ela é imensurável....

Há também uma parcela de corredores que se cobra um pouco mais e, após cruzar várias linhas de chegada, começa a sonhar e a projetar uma medalha a mais na mesma prova, uma colocação entre os primeiros da faixa etária ou na classificação geral... E o momento de consagração dessas superações se dá com a subida ao pódio. Às vezes é apenas um degrau, alguns centímetros que se afastam do chão, mas subir esse degrau equivale a realizar uma verdadeira escalada, que começou com aqueles trotes iniciais, difíceis, sôfregos, quando deixamos de ser um sedentário e passamos a nos aventurar neste terreno das corridas. Aqueles poucos segundos em cima desse degrau podem representar toda uma vida, podem celebrar a cura de uma doença, a vitória frente à obesidade. Para quem "está de fora" pode parecer supérfluo, apenas um detalhe... Mas para quem conquistou qualquer marca a mais, aquele é o seu momento de consagração: aquele momento em que o corredor atravessa a linha de chegada e beija o chão, que abraça o amado ou a amada que o espera;  que beija a medalha balançante sobre o peito... E quando se espera o nome ser anunciado? Ao ouvi-lo, o grito vai eclodindo lá de dentro do peito, invadindo a garganta e explodindo num êxtase de satisfação; às vezes é quando as lágrimas que marejam os olhos se tornam tão caudalosas que escorrem pelos cantos dos olhos, que já não comportam tanta emoção... Ou é o sorriso esbanjado que vai se formando e parece não caber na moldura do rosto...

Ah, não privem um corredor desse seu momento tão seu e ao mesmo tempo tão nosso... Não, não o privem de escalar uma vida toda durante aquelas frações de segundos que duram a subida ao degrau... Não o privem da foto que eterniza o momento... Privá-lo desses instantes equivale a ver uma comédia e não se divertir, a ver um drama e não se emocionar, a esperar por um orgasmo e não gozar... Fica a sensação de uma emoção que se preparou para ser expurgada, mas precisou ficar contida... Ela fica ali, como entalada no peito, tendo que ser diluída, quando deveria ter sido deliciosamente liberada...

Permita ao corredor ser um sujeito completo, seja buscando sua saúde, seja correndo com seus amigos, seja almejando suas pequenas e progressivas vitórias... Disse o poeta: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". E cada um sabe a dor e a delícia de se entregar de corpo e alma às corridas, aos treinos, à disciplina... De se doar por inteiro por alguns quilômetros e correr, correr, correr... E querer alcançar seus pódios, suas marcas e medalhas... Suas pequenas consagrações diárias... Permita-lhe se emocionar... Ali não está apenas um corpo que corre e se satisfaz com  a endorfina na veia e com os músculos que latejam, acusando o esforço feito; não é apenas físico... Ali está um ser que se emociona, que sente além do físico, que vibra com o que há além da matéria das medalhas e dos troféus e dos degraus...

"Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui /percorri milhas e milhas antes de dormir / eu não cochilei/ os mais belos montes escalei / nas noites escuras de frio chorei..."