Foi preciso deixar passar alguns dias, deixar as emoções se acomodarem, para poder escrever sobre a Corrida de São Silvestre. Desde que comecei a correr, há quase 3 anos, que as pessoas me perguntavam se eu já havia feito a São Silvestre e, quando eu dizia que não, elas pareciam decepcionadas... Eu procurava explicar que já havia feito corridas mais longas e que, para mim, eram de peso muito maior, como meia maratona e maratona. Mas, ainda assim, as pessoas se mostravam insatisfeitas. Pareciam pensar: "Mas que corredora é você que não correu a São Silvestre?". O mais engraçado é que são pessoas que não correm... Foi quando eu comecei a procurar entender o que a São Silvestre teria de diferente ou especial...
Em 2011, cheguei a me inscrever para a prova, queria ter a São Silvestre no currículo para poder responder: "Sim, eu já corri a São Silvestre!". Mas, por motivos alheios à minha vontade, acabei não indo; e assisti à corrida com um aperto no peito muito grande. Era para eu estar lá, mas eu não estava... Mas veio 2012, muita coisa mudou em minha vida e lá estava eu, entre 25 mil corredores... Uma prova para não pensar em tempo, eu queria curtir, percorrer aqueles 15 km como uma celebração do ano que findava e que me trouxera tantas experiências boas...
Manhã do dia 31 de dezembro, Avenida Paulista. Um mar de corredores tomando conta do espaço. Bonito de se ver. Emocionante de participar. Estar ali era de fato uma celebração. A celebração de uma vida melhor, mais saudável. De uma vida que, hoje, pesa menos no corpo, nos ombros, na alma... De uma vida que requer disciplina e determinação... De uma vida que faz de mim uma mulher mais feliz e realizada....
Estar ali era olhar para trás, para a moça que saiu da casa da família, há 5 anos, com 30 kg a mais, e recordar a mudança pela qual havia passado: a matrícula em uma academia, muito suor enxugado em cada aula de jump, spinning, step... Cada músculo dolorido que tentava ocupar o espaço que ia sendo deixado livre sob a pele à medida que eu emagrecia... Estar ali era lembrar a moça, já magra, começando a dar seus primeiros trotes de 1 min infindável; 1 min em que o corpo clamava por um oxigênio que parecia faltar; 1 min em que as pernas imploravam para parar... E o tempo foi passando, e aquele minuto foi aumentando e deixou de ser contado em tempo para ser medido em distância: 1 km, 2 km, 3 km, 4 km, 5 km (e a estreia em provas), 10 km, 16 km, 21 km (o sonho da meia maratona) e o desejo maior dos 42 km (aquele minuto foi se multiplicando, multiplicando e chegou a 4h24min)...
Aquela Lílian que foi criada no interior não podia imaginar que sairia de lá rumo a uma vida literalmente corrida... Virou corredora, virou maratonista, foi ser feliz em outras paragens e chegou à São Silvestre para relembrar tudo isso e celebrar...
Hoje eu entendo que eu precisava viver o clima da São Silvestre. Estar ali é mágico. Há uma aura sobre esta corrida. Talvez pela data, pela quantidade de pessoas, pela tradição... Foi a única corrida até hoje que eu desejei que não acabasse...Correria mais e mais quilômetros curtindo cada rua, a companhia da amiga Gleice Medeiros, as diferentes pessoas pelo caminho. E quantas diferenças: jovens, idosos, magros, gordinhos, deficientes, diferentes raças e nacionalidades: mas todos unidos pela corrida.
Entre aquelas 25 mil pessoas, 25 mil novos capítulos de vida estavam sendo escritos ali. O meu foi um capítulo ao estilo flashback, para olhar para trás e agradecer demais o presente e me manter firme em meus propósitos e valores para ter um futuro ainda melhor... O relato de amigos comprova isso, sentimos a emoção que eles sentiram também quando lemos suas palavras ou vemos suas imagens:
"Era uma vez uma garotinha tímida e franzina, lá do interior da Bahia, que todos os anos, desde que se entendeu por gente, se “plantava” na frente da TV no último dia de dezembro para assistir à Corrida de São Silvestre. Ela não entendia o porquê, mas vibrava com a corrida, e sempre repetia: um dia eu vou correr aí. Com o passar dos anos, ela se mudou para o Espírito Santo, foi sendo engolida pela vida e o sonho foi parar no fundo da gaveta da memória. E todos os anos, no último dia de dezembro, depois de assistir a “São Silvestre”, ela abria a gaveta, olhava para o sonho e repetia: um dia eu vou correr aí. O tempo passou, e um belo dia a garotinha tímida e franzina, agora já na metade da vida, foi picada pelo bichinho da corrida. E correu, e correu, e gostou, e correu muito mais. E encontrou um bando de loucos que corriam, e fez muitos amigos, e correu mais e mais. Correu tanto que passou a acreditar que o sonho da menina tímida e franzina poderia sair definitivamente da gaveta da memória e se mudar para o mundo real. Em 31.12.12 ela correu a São Silvestre... com lágrimas nos olhos e o coração na boca. De vez em quando ainda abre a gaveta, só pra confirmar se o sonho saiu mesmo de lá. É que nem ela acredita..." (Eubenes Moreira)
"Ela nem estava nos meus sonhos, mas não é que ela foi um sonho de corrida! (...) Chegar de viagem e ouvir da minha mãe que não conseguiu assistir a São Silvestre... Pq chorava de emoção e de orgulho por saber que eu estava lá, sem sombra de duvida não tem preço... Ela sabe por tudo que passei e o que sou hoje... E saber que ela tem orgulho de mim é bom de mais da conta, sô!!!"(Gleice Medeiros)
"Me lembro muito bem do dia 31 do ano passado [2011] eu sentado num sofá em Marataízes, chorando por não estar na São Silvestre. Hj choro por estar aqui!!! Obrigado, Senhor!" (Thiago Pateta)
E o relato em vídeo, do amigo Maximilian Garcia de Barros:
E a gente vai levando a vida assim: sendo feliz à nossa maneira. Escrevendo capítulos emocionantes para nossa história....
Oi Lilian!Parabéns mais uma vez!!!Fiquei aqui lendo e não deu p/conter as lagrimas.A São Silvestre é mesmo uma prova super especial,tem uma alegria propria, não sentimos dores,nem o cansaço,e quando chegamos na Av,Paulista dá um aperto no peito porque acabou...este video é uma delicia,viu como todo mundo sorri?É a magia da São Silvestre!Parabéns,vc é realmente uma pessoa iluminada por Deus que nos presenteia com suas cronicas e sua sensibilidade!!!Bjos
ResponderExcluirObrigada, Marlene! É muita emoção mesmo, muita alegria reunida!!! Essa é a aura da corrida!!! Bjs!
ExcluirEmocionante... Me senti mais uma vez correndo por aquelas ruas. Parabéns querida por mais essa conquista, agora é treinar pesado e a maratona do Rio que nos aguarde.
ResponderExcluirUm beijo e um forte abraço de um amigo corredor.
Que lindo e que bom relembrar de um momento magico que passei ao lado da amiga irmã... Amo você...
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