Suor e poesia: essa combinação, que dá nome a meu blog, pode parecer estranha, já me disseram, inclusive, que não há nada de poético nela. Poderia dizer que é a combinação de minha formação acadêmica com minha paixão pela corrida. Mas não é só isso. É que vejo uma relação entre as duas todas as vezes em que vivo algumas experiências cujas emoções e sensações só a corrida pôde, até hoje, me proporcionar.
XC Run Búzios 42km / 2015
Pela segunda vez fiz a prova solo, porém, assim como "a gente não se banha duas vezes no mesmo rio", porque suas águas nunca são as mesmas, nós também não somos os mesmos quando repetimos uma corrida. Desta vez, eu não tinha a inocência da primeira, quando se vai ara o desconhecido; mas nem por isso o encantamento foi menor. Desta vez, eu tinha um pouquinho mais de experiência, adquirida nos treinos e nas corridas que fiz nos últimos 12 meses; mas nem por isso os morros deixaram de ser morros, nem as areias deixaram de ser areias. Desta vez, eu tinha uma cabeça mais tranquila, um coração menos ansioso; mas nem por isso deixou de ser uma maratona, com seus 42 km; nem por isso o corpo deixou de ir ao esgotamento e a cabeça comandar até o fim. Nem por isso as lágrimas, em determinado momento, deixaram de querer brotar para extravasar aquela sensação de liberdade.
Esses dias li uma frase com a qual me identifiquei muito: "Ela aprendeu o que é liberdade quando descobriu quais eram suas prisões". Sei que ainda tenho prisões das quais preciso me libertar, mas um delas se chamava obesidade. Somente depois que emagreci, descobri que ela me aprisionava em um corpo que só exercitava a mente. Era como se eu buscasse compensar com os estudos o que negligenciava com o corpo. Hoje entendo a necessidade de equilíbrio entre corpo e mente. Hoje represento isso com SUOR e POESIA.
Depois que emagreci, conheci algumas liberdades, e a corrida talvez seja a mais significativa. Quando estou em uma corrida como esta de Búzios, a sensação de liberdade que sinto é indescritível. Somos nós e a natureza. Ela nos desafia com seus obstáculos, mas também nos premia com suas belezas. No ano passado, o sol tornou tudo mais lindo, mas nos castigou. Neste ano, o clima estava perfeito, mas a lama resultante da noite chuvosa tornou as subidas dos morros muito escorregadias e pegajosas - parecia que os morros tinham mãos que queriam nos prender pelos calcanhares. Também achei que a maré estava mais alta do que no ano passado; mas, depois de 37 km desgastantes, entrar naquelas águas foi um alívio para o corpo, para a musculatura cansada. Não avistamos Búzios do alto do Morro do Mirante, havia uma neblina densa escondendo tudo, mas nem por isso a sensação de ter conquistado as alturas foi menos gratificante.
Liberdade de saber que nós podemos ir de quilômetro a quilômetro, no nosso ritmo, respeitando nossos limites, nossas emoções. De nos questionarmos o que estamos fazendo ali e, ao mesmo tempo, encontrarmos resposta para essa pergunta. Resposta única, intransferível. Cada um sabe por que corre, o que busca com/na corrida. Com o tempo, ela vai indicando os caminhos a seguir. E o caminho está sempre por ser feito. Não há completude. Há bifurcações e possibilidades de escolhas. Somos seres em busca de um algo a mais; um algo a mais que preencha nossa vida de significados, que vá além da rotina da vida que nos liga no modo automático. A corrida para mim é este algo a mais. Ela já deixou de ser por saúde há algum tempo. Tenho consciência disso.
5 km, 10 km, 15 km corremos por saúde; 40 km, 50 km...100 km corremos para a alma. É assim que vou me preenchendo aos pouquinhos. Volto sempre recarregada. Pronta para dar continuidade à preparação dos próximos sonhos. Hoje, meu sonho-mor de 100 km ainda me parece só um sonho, mas sei que os meses que virão me deixarão em condições de tentar transformá-lo em realidade. Minha alma anseia por isso. Não posso deixar minha alma na mão...