MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

terça-feira, 21 de abril de 2015

A ULTRAMARATONA... AS MONTANHAS...


E foi assim que eu cheguei "a lugares inusitados dentro de mim".


Para mim hoje é mais importante chegar mais longe do que chegar mais rápido. Por isso a ultramaratona. E também chegar mais alto; daí as montanhas. Demorar-me mais pelo caminho, estar mais tempo comigo mesma, com meu corpo, meus pensamentos e sentimentos... Estar mais tempo com a natureza. Ser parte dela. Não como algo que vislumbro de longe e maravilhada vejo como “aquilo lá” é bonito. Mas estar dentro dela, sentindo suas pedras e raízes sob meus pés; sentindo a sombra das árvores e os raios do sol; sentindo o frio e a escuridão; a água gelada ou refrescante dos riachos que atravesso. Sentir que eu vivo a natureza em mim.

Cravar os bastões no solo da montanha, buscando impulso para subir, subir, subir. Lentamente. Sentindo a respiração, o suor, os músculos pulsando. Os pedregulhos escorregando e o céu se aproximando. Sentir que a cabeça e o coração estão em paz; que o importante é a passagem por aquele caminho, no ritmo que me apraz. Olhar para trás  e perceber como tudo vai se tornando pequeno, pela altura, e gigante pela amplitude do horizonte que se abre. E quanto mais alto, mais a pequenez e a amplidão se comungam num cenário paradisíaco. Búzios me mostrou isso. Corupá me maravilhou com isso. Patagônia me fez transbordar com isso.

Chegar mais alto para mim significa chegar mais próximo do céu, da transcendência.
É uma busca. Hoje, como nunca, tenho certeza disso. A montanha é para mim a metáfora da busca de algo maior; algo que se demonstra ou que sinto após muitos quilômetros, após a escalada. Algo que se experimenta por segundos, quiçá minutos. Como um orgasmo. Como o barato de uma droga. Como o nirvana do budismo. E fica a memória daquela sensação tão boa, tão pura, tão forte e ao mesmo tempo tão sensível. Uma memória que faz com que eu queira mais, que eu queira repetir não a mesma experiência (que na verdade nunca seria a mesma), mas a mesma sensação. E por isso a busca segue. Os sonhos surgem. As metas são estabelecidas. Os treinamentos são feitos. E vale a pena tantos meses de dedicação, de sofrimento, de entrega para instantes tão fugazes? Sim, porque é na fugacidade desse instante que preencho todos os vazios que a vida cotidiana vai deixando. Volto plena e, quando os vazios começarem a gritar lá por dentro, sei que terei outra experiência incrível para me preencher.


A corrida é minha forma de autoconhecimento. É minha meditação. É onde busco meu ponto de equilíbrio; por meio dela expurgo todas as turbulências do dia a dia, do emprego, da vida em sociedade, da engrenagem louca do mundo moderno. Já quis ser rápida no começo. Mas com o tempo fui descobrindo que não era a velocidade que me preenchia. Comecei então a ir mais longe e a caminhos mais instáveis e irregulares. Caminhos que começaram a exigir de mim mais  atenção, mais concentração, mais força, mais tempo, mais cabeça. E vi que são os caminhos certos porque despertaram em mim mais emoção e por isso fazem de mim mais humanizada. Não vou dizer que me encontrei na corrida, porque esse encontro com nós mesmos é interminável. Mas eu me busco na corrida. E vou me encontrando aos pouquinhos... Há muitas montanhas pelo mundo esperando que eu vá lá buscar mais um pedacinho de mim... E eu irei! No tempo certo...

Um comentário:

  1. Lindo, lindo!!! Adorei! Que você tenha outros tantos bons reencontros nas corridas por aí :) Felicidades mil!!! Bjkas Juliane.

    ResponderExcluir