Dez Milhas Garoto: pela quarta vez corro a corrida mais tradicional do Espírito Santo. Este ano ela teve uma sabor especial, pois fechou um ciclo de preparação para a Maratona da Bahia no próximo domingo (24/08). O objetivo era fazê-la em ritmo forte, coroando o final do treinamento, colocando à prova tudo o que foi desenvolvido por quatro meses de foco, disciplina, determinação.
Consegui alcançar meu objetivo de concluir os 16 km em 1h25. Meu melhor tempo nessa prova havia sido 1h28, em 2011, ou seja, na primeira vez que fiz as Dez Milhas. Nos dois anos seguintes o tempo aumentou. Baixar três minutos pode parecer pouco, mas é significativo. Na verdade, diminuí 13 minutos em relação ao ano passado. Foi uma vitória. Foi preciso imprimir um ritmo forte, difícil para mim. Não corri no meu limite, pois não quero que seja sofrimento em excesso. É preciso que haja prazer. Não quero chegar ao final (ou nem chegar) e cair de exaustão.
Na verdade, não gosto de velocidade. Já determinei que não é o tipo de meta que buscarei em minha vida de corredora. Prefiro as distâncias e quero mesmo é me enveredar pelas dificuldades de trajeto. Mas as Dez Milhas estavam na planilha como um treino de velocidade, então, missão cumprida. Fiquei muito feliz pela meta alcançada. É um resultado que mostra que para colher frutos é preciso plantar a semente e cuidar dela para que ela cresça adequadamente. Cuidei da semente a cada vez que saía para treinar tiros, morro, areia, longos... Cuidei cada vez que chegava em casa exausta e amanhecia com os músculos doloridos... Cuidei cada vez que ia treinar, apesar da vontade de descansar.
Mesmo sem chocolate, o sabor pós-corrida foi doce. Doce pela conquista, doce pelas amizades, doce pela estrutura que as treinadoras Helayne e Aryane prepararam para mais de 200 alunos. Doce por ver a satisfação da maioria dos colegas. Exaustos, mas, sobretudo, felizes. Alguns experimentando pela primeira vez a distância dos 16 km, muitos estreando nas Dez Milhas, outros superando seus tempos e aqueles que superaram o corpo que queria vencê-los. Gosto muito de ver tudo isso, de sentir com os outros o que eles sentem, porque eu também já senti, sinto e continuarei sentindo.
O universo da corrida é muito peculiar. Vemos e vivemos experiências incríveis. Gosto de ler os depoimentos dos corredores, cada um experimentando algo muito ímpar, mas paradoxalmente muito coletivo. Lágrimas de dor, de superação... Sorrisos de vitórias tão íntimas... Nós na garganta por metas não alcançadas... Cada um sabe a dor e a delícia de estar ali e de colocar a medalha no peito. Ontem, quando estava a poucos metros da linha de chegada, passei por um corredor amparando um outro que lutava para conseguir completar sua prova. Fico imaginado o prazer que foi para os dois atravessar aquela linha. Somente eles para explicar, mas imagino...
Enfim, correr nos faz mais leves, mais felizes. Se, por algum motivo, a corrida provocar outros sentimentos que não esses, é preciso repensar o que estamos fazendo conosco...
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