Faltam 30 dias... Um mês, apenas
isso...
Há aproximadamente 3 meses eu
comecei minha contagem regressiva rumo à Maratona da Bahia. Foram muitos treinos intensos:
tiros no calçadão, subidas ao Convento, quilômetros pelas areias fofas da Praia
da Costa, Itapoã e Itaparica... E longões...
Ah, os longões! Amo-os e os odeio ao mesmo tempo... Acho que conheço as
curvas da Rodovia do Sol próximas à Vila Velha como ninguém... Passar por elas
correndo, vencendo o sol, vencendo o corpo, vencendo a cabeça é de deixar
marcas nas solas e na carne...
Já disse em outras oportunidades
que eu gosto mesmo é das corridas longas. Não sei se sei explicar os motivos.
Talvez porque seja um prazer mais demorado, mais suado, que exige de mim um
tempo, uma dedicação, um esforço diferentes... E é a preparação para essas
corridas que constroem a gente. A corrida em si é “apenas” o momento da
consagração de tudo o que foi feito por semanas e semanas. Gosto muito deste
trecho do Dr. Drauzio Varela, acho que me identifico com essa comparação da
maratona com a vida, com nossa luta diária, nossas necessidades de constantes
superações:
"A maratona tem uma ligação
direta com a vida, com aqueles momentos em que você é obrigado a fazer um
esforço para chegar ao fim. Ela dá essa resistência, de você saber que
está difícil, mas que vai ter que conseguir de qualquer maneira. A vida é
assim: você passa por fases duras, mas persiste porque sabe aonde quer chegar.
A maratona também te dá uma sensação de que você pode. Quarenta e dois
quilômetros? Quem pode correr isso, pode outras coisas também."
Quem já se dedicou aos treinos
para uma maratona sabe do que estou falando. É uma entrega muito grande. A vida
é quase toda direcionada aos treinos. Tem que se alimentar bem, descansar bem,
ter paciência, persistência, vencer a dor e a cabeça que, às vezes, pedem para
o corpo parar.
Já fiz duas maratonas. Em momentos
muito diferentes, em contextos muito diferentes. Treinei para elas como o
momento pedia ou permitia. Mas nunca me entreguei tanto aos treinos como o momento e o contexto
atual estão me permitindo fazer agora. E por isso esses 3 meses que se passaram
foram tão significativos.
Houve alguns momentos de
fraqueza, mas houve os de vitórias. Em alguns dias me sentia a corredora mais
fraca do mundo; em outros, uma verdadeira heroína.
Houve alguns momentos de
desânimo; outros muitos de pura confiança. Tem dia que o corpo não coopera; tem
dia que a cabeça não ajuda. Mas no dia que dá tudo certo a gente esquece os
dias não muito bons.
Houve muitos, muitos momentos de
companheirismo; outros tantos de solidão... Treinar com um grupo focado no mesmo objetivo
é algo fantástico. Saíamos juntos, nos encontrávamos no final, cada um com sua
história. Mas na hora da batalha, a luta é mesmo solitária.
E houve, sobretudo,
aprendizado...
Aprendi que fico muito mal humorada
quando sinto que não fui bem em um treino.
Aprendi que somos um bando de
loucos que se for pra correr às 7h está pronto; se for pra correr às 13h está
pronto; se for pra correr às 3h30 da madruga está pronto.
Aprendi que a Rodovia do Sol não poderia ter um nome melhor
quando se passa correndo por ela às 13h-14h.
Aprendi que subir o Convento 3
vezes pode, no início, causar uma “crise de asma”, fazendo parecer que o pulmão
vai sair pela boca. Mas que subir mais 3 vezes em outro dia; mais 3 vezes em
outro; em outro e em outro me preparou para as últimas 4 subidas que fiz sem
sofrer ou, pelo menos, sem querer um
pulmão novo ao fim do treino.
Aprendi que os treinos de tiros
são imensamente sofridos. Doem! Doem muito! Pra caramba! Mas me tornam um
pouquinho mais resistente a cada dia.
Aprendi que as areias das praias
de Vila Velha têm seu encanto, mas têm também o poder de fazer um corredor suar
muito quando se atreve sobre elas. Exigem de nós músculos fortes e sangue frio...
Aprendi que correr com
companheiros mais fortes, apesar de ter me frustrado na primeira vez que fiquei
para trás (muito para trás), ensina a manter a cabeça fria e a focar em meu
próprio ritmo, corpo e limitações.
Aprendi que meu corpo tem
limites, mas ele permite que, com constância de treinos e respeito, sejam
ultrapassados aos poucos.
Já aprendi muito e ainda tenho a
aprender até o dia da prova. Serão mais
4 semanas de preparação. Serão duas provas significativas pelo caminho: a Meia
do Rio e as Dez Milhas Garoto. Dois treinos
de luxo, antes da tão esperada e suada Maratona.
A base foi construída. Agora é
hora da lapidação. E sei que o mês passará correndo. Logo, logo, voltarei para
escrever da prova em si. Pretensões? Não muitas. Fazer uma boa prova, sem
sofrimento desnecessário. Quem sabe baixar um pouquinho meu tempo. Mas,
sobretudo, sentir, novamente, a sensação indescritível de se cruzar a linha de
chegada de uma maratona e dizer: eu consegui! Nós conseguimos!!!
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