Todo lugar tem sua corrida especial, aquela que mobiliza mais pessoas, que faz parte da tradição, que possui uma aura diferente. São Paulo tem a São Silvestre; Rio de Janeiro tem a Maratona da Caixa; Belo Horizonte tem a Volta Internacional da Pampulha; Vitória e Vila Velha têm as Dez Milhas Garoto....
E, para correr a corrida do chocolate, pessoas que nunca correram se preparam; os já corredores dão maior atenção ao treinamento; corredores de fora agendam viagem... Muitos capixabas crescem vendo a Corrida da Garoto passar pelas ruas das cidades; ser anunciada na TV, em outdoors. Algumas pessoas despertam o desejo de participar; outras prometem: "Um dia ainda corro esta corrida..."
E, quando a data vai se aproximando, a tal aura que mencionei vai se mostrando: correr a Garoto, para o capixaba, é como ter um certificado diferenciado; atravessar a Terceira Ponte a pé é oportunidade rara (não muito em tempos de manifestações, é verdade); tirar a foto na ponte com o Convento ao fundo é um comprovante de participação...
E é bonito participar de um evento como este: desde o momento da abertura das inscrições até o grande dia... O treinamento, a expectativa, a entrega dos kits, o jantar de massas, a concentração antes da prova; a adrenalina da largada, a endorfina da chegada...
Há 3 anos, ainda morando em Minas, vim correr a Garoto e, na época, não tinha noção do que ela significava para a região... Lembro-me de ter ido ao Convento da Penha e de lá "conhecer" a Terceira Ponte: parecia-me longa demais, a subida dava um pouco de medo; mas aquele cenário lindo me encantou... Não podia imaginar que seis meses depois eu estaria morando em terras capixabas e que, logo, poderia sentir as emoções de esperar e vivenciar a corrida completa...
É emocionante e às vezes sofrido subir a ponte; mas, para mim, o mais comovente é a chegada à Praia da Costa, onde o público nos aguarda, aplaude, incentiva. Gostoso demais, quando, ali, já indo para o fim da prova, cansados, às vezes, ouvimos nosso nome e um incentivo particular... Já aconteceu de um aluno gritar: "Vai, professora, vai!"
Quando saímos da orla, o público diminui e, então, é hora de buscarmos nosso torcedor íntimo, aquele que fica ali dentro da nossa cabeça dizendo: "Força! Está acabando! O pior já passou!" Ou aquele que fica ali no coração, querendo se emocionar, querendo fazer as lágrimas da superação descer... E o filminho da preparação, do desejo, do sonho começa a se passar no nosso interior... Enquanto isso, mesmo cansados, nós seguimos... E nos aproximamos do quilômetro 14 na Castelo Branco... Viramos à esquerda na Luciano das Neves, por poucos metros; desembocamos na Henrique Moscoso e encontramos o último posto de hidratação. Hora do derradeiro abastecimento e de concentração, porque logo o quilômetro 15 se aproxima... E aí nosso torcedor interno nos diz: "Só falta um quilômetro! Está acabando! Está acabando!" Mais uma curva à esquerda e outra à direita e pronto: eis que estamos na reta da Garoto... Agora é correr com o coração. É o momento em que não sabemos onde encontramos força, mas ela aparece... E a gente vai: metro a metro, preparando para avistar a linha de chegada, a arquibancada, o povo aplaudindo... E, com lágrimas nos olhos e/ou com sorriso escancarado, com sprint final e/ou com superação de dor e cansaço, entramos no corredor ladeado pelas arquibancadas lotadas, e os metros finais são percorridos quase que anestesicamente...
E, então, é passar pelo tapete de cronometragem e comemorar! Qualquer corrida merece e deve ser comemorada. Não somos quenianos em busca do primeiro lugar. E, por mais que tracemos nossas metas (sim, precisamos delas), a decepção de não alcançá-las não pode ser maior do que a comemoração de uma corrida que foi completada. Somos corredores amadores, corredores amantes da corrida. Não ganhamos o pão de cada dia correndo (pelo contrário, gastamos o pão de cada dia correndo), por isso devemos ir pela festa, pela saúde, pelo não ao sedentarismo... Devemos ir pelo prazer de colocar a medalha no peito e dizer: "Sim! Eu corri as Dez Milhas Garoto!!!"
Só quem participa de corrida conhece a emoção de cruzar a linha de chegada, ainda mais naquele dia que o cansaço é tante, que parece que não vai dar pra chegar. Parabéns pela matéria Lilian.
ResponderExcluirObrigada!!! Só faltou vc assinar pra eu saber quem é.... ;)
ExcluirAh! é sempre bom ler seus textos, pois eles traduzem exatamente o que sentimos, inclusive as lágrimas, que graças a Deus insistem em rolar, porque quando eu não me emocionar a cada chegada, já não faria mais sentido pra mim a corrida de rua. Beijos e mais uma vez meus parabéns!
ResponderExcluirObrigada, Denis!!! Beijos!
ExcluirVai professora.... VAI!!!
ResponderExcluirMatheus, falei de vc mesmo!!!! Beijos!
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