É com sabor de estreia que escrevo esta crônica, inaugurando um
espaço onde poderemos falar de uma paixão comum a muitas pessoas: a corrida.
Uma paixão que acende os corações, que desperta emoções variadas, que nos torna
guerreiros, capazes de superação constante.
Pedir-me para falar de corrida é, instantaneamente, fazer brotar
um sorriso em meu rosto, um brilho em meus olhos. E logo começo a me lembrar
dos primeiros medos, das primeiras dores, dos primeiros quilômetros
percorridos, das primeiras amizades corredoras... Do primeiro kit (sem saber o
que fazer com aquele chip), da primeira linha de largada, do primeiro gel de
carboidrato, da primeira linha de chegada, da primeira medalha no peito...
E me vêm à mente as segundas e terceiras e quartas e quintas emoções
e experiências: que nunca se tornam repetitivas, pois ascorridas têm um sabor
diferenciado. Umas com um toque adocicado de superação; outras com um sabor
picante de desafio; algumas com uma pitada de ousadia. E muitas, muitas (muitas
mesmo!), regadas a sorriso e endorfina (isso, sim, elas têm em comum).
E por mais que comecemos a correr por motivos ímpares, quando
nos encontramos, tornamo-nos "farinha do mesmo saco". E nos
lambuzamos de cumplicidades, trocamos experiências, tiramos dúvidas uns com os
outros, reconhecemo-nos no suor dos abraços apertados... A corrida é assim: ela
nos faz parte de um grupo que entende a dor e a delícia de se entregar de corpo
e alma aos treinos, à disciplina... De se doar por inteiro por alguns
quilômetros e correr, correr, correr... E querer alcançar seus pódios, suas
marcas e medalhas... Suas pequenas consagrações diárias... A corrida nos faz
parte de um grupo que se emociona... Ali não estão apenas corpos que correm e
se satisfazem com a endorfina na veia e com os músculos que latejam, acusando o
esforço feito; não, não é apenas físico... Ali estão seres que se emocionam,
que sentem além do físico, que vibram com o que há além da matéria das medalhas
e dos troféus e dos degraus dos pódios...