MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

quarta-feira, 18 de abril de 2012

EU VI A POESIA ACONTECENDO NA AVENIDA....

DE SUOR E POESIA deixa espaço hoje para um relato emocionante de alguém que experimentou momentos de intensa emoção no último domingo. Alguém que ouviu sobre a possibilidade de nunca mais poder correr e que, entretanto, deu a volta por cima e reestreou nas corridas na Meia Maratona da Suprema, em Juiz de Fora. Falo de nosso amigo Gedair Reis, sobre o qual havia mencionado antes em algumas crônicas. Tive o privilégio de presenciar parte desses momentos e os compartilho com vocês, meus queridos leitores. Eu vi a poesia acontecendo em cada cumprimento de amigo, em cada gesto de aprovação, em cada quilômetro percorrido.... 



"A gente precisa colocar a alma no que faz... nos sonhos...nos desejos...nas tarefas diárias, difíceis ou não... nas atividades, procurando a superação... e foi o que eu fiz... Desde o último verão estive trabalhando para colher os frutos neste outono...

Ultrapassei os limites do meu corpo de maneira inconsciente... e ELE me obrigou a parar para descansar e refletir...

Desde o dia 11 de dezembro me encontrava ausente das competições... Uma série de acidentes me levaram à cirurgia... E o médico me dizia: "Difícil você voltar a correr"...  Então passei a travar uma luta interna e externa ... Um dilema: se entregaria os pontos ou se lutaria para correr... Nos primeiros dias pós-cirurgia me sentia um trapo... Era uma tristeza que parecia não ter fim... Minha vida havia perdido o sentido... A dor foi a minha companheira noite e dia, por muitos dias... O meu tempo de corredor já era... O meu amor virou desamor... Como criança caía em prantos e lamentos.

Com a presença e oração dos amigos tudo foi se modificando... Iniciei a cura espiritual: a minha dor era muito pequena perante a de milhões de pessoas por este mundo... De repente me percebi REvertendo a situação... REfazendo planos... REtraçando metas... Sonhando com um provável REtorno ... Passei a suportar o que a mim fora por Deus designado... REencontrei-me  com a esperança... com a firmeza... com a humildade... com a paciência... com a disciplina e a dedicação... Se voltaria a correr não sabia ainda... mas agradecia por voltar a caminhar...

A REcuperação

Retirei os pontos... Tratamento com fisioterapia... com as caminhadas e trotes... 4-6-8-10-12-15 km... Treinos progressivos me REeducavam para o atletismo...

Terça, dia 10/04: exame final... Imensa era a minha expectativa... coração acelerado... a expectativa tomava conta de meu ser... Ouço o que o médico me diz: "Pode correr nos 21 km, mas bem devagar."... De tanta felicidade desabei... chorei, abracei, voltei para casa com o sorriso escancarado por tanta felicidade...

Ia REcomeçar... logo eu que tinha pavor deste prefixo RE...

REnasceu um novo homem, um novo Gedair REis, guardaram?


O dia 15 de abril

Apenas uma data no calendário... mas uma data muito especial no meu... 26º Ranking de Corridas Rústicas de JF... Para REnovar minha "Vidativa" uma "Suprema" meia maratona... para REiniciar nas corridas longas... Um domingo para ficar na memória... na minha e dos muitos amigos...

Após uma longa parada, REnasceu um novo corredor, voltei a competir com uma outra visão... Continuarei a ser guia de deficientes visuais... minha dor foi superada... me aproximou um pouco mais de Deus... Como num banho em águas cristalinas me REnovei...

Sou corredor e numa grande corrida fui vencedor.
Minha medalha foi uma lesão,
Nos meus limites fui um campeão.
No meu desespero me perco pelos percursos,
Passo a viver como humilde vagabundo,
Sem poder fazer o que amo, correr como um animal.
Envolto por difíceis percursos
À procura pela cura e pelo alimento
que sustente meu amor e paixão.
Este foi e será o meu destino,
Correr junto às feras,
Cruzar cidades, campos e mares,
Sem me afundar em areias movediças.
Eu era veloz,
E numa infeliz passada, tudo se modificou
Lágrimas inundaram meu deserto,
Meu corpo frágil se manifestou
Uma contusão, uma nova dor.
Meus fragmentos, minha angústia,
Minha cirurgia.
Deus se fez presente,
Nos amigos que por mim intercediam,
Eu não sabia da dimensão deste amor.
Agradeço aos amigos e família,
razão para toda superação!


Confesso que me sentia incompetente e me culpava pela minha contusão. Quase cheguei a perder a confiança em mim mesmo, quase... Fui por demais exigente, procurava atender e a antecipar as expectativas por mim criadas na ansiedade por um REtorno rápido e eficiente.

E na manhã de sábado,14, recebi no carinho dos amigos mais energias e esperanças, e aquela montanha que eu via em meu caminho era apenas um grão de arroz. O mérito deste meu REtorno não é só meu, é principalmente seu que tanto me ajudou e acompanhou.

Por mais esplendorosa que tenha sido a minha volta, que eu jamais permita que a vaidade, o orgulho, a auto-confiança venham a se agigantar em minha vida. Que Deus me mantenha como um homem simples, humilde, feliz e com crescente amizade.

Morremos no exato momento em que deixamos de sonhar. Que meus sonhos se realizem sobre um alicerce humano, sadio, equilibrado e verdadeiro.

Obrigado, amigos, pelo carinho nas avenidas, quando gritavam o meu nome, quando acenavam, quando sorriam. Obrigado especial, amigos Visão no Esporte; obrigado, Marias e Josés, devo a vocês muito mais do que ouro e prata. A eterna gratidão, desde o primeiro exame até a total recuperação.

Ainda me encontro por demais emocionado... Mais uma vez "Obrigado, Senhor... por mais um dia... por REcomeçar com alegria".


domingo, 8 de abril de 2012

UM LONGÃO DE PURA POESIA...

"Quando o sol acena, parte em mim  
Diz valer a pena ser assim,  
Que no fundo é simples ser feliz..."
   
   
          É chavão falar que a primeira vez a gente nunca esquece... Mas será que, além de chavão, é mentira? Acredito que não... Seja por ter sido boa, seja ruim, ela fica marcada... Quem não se lembra do primeiro beijo, do primeiro namorado, da primeira noite de amor, do primeiro emprego, etc., etc., etc.? Na corrida não é diferente: eu me lembro perfeitamente de meu primeiro minuto de corrida, intervalado com 4 minutos de caminhada; da minha primeira volta completa na UFJF - meus amigos juizforanos sabem a que me refiro; de meus primeiros 5km em treino; da primeira prova de 5km, quando experimentei pela primeira vez a emoção de atravessar a linha de chegada; de meus treinos para a primeira prova de 10km e a emoção de percorrê-la; minhas primeiras 10 Milhas; minha primeira Meia Maratona; os primeiros 18km em Paraty...
        Semana passada tive uma outra experiência marcante... Era uma manhã linda... Sabem, LINDA, assim, com todas as letras maiúsculas mesmo!!! Céu azul, sem nenhuma nuvem, sol "nascendo" no mar, uma manhã de feriadão e eu celebrando meus 33 anos de vida... Resolvi me dar de presente de aniversário um longão. De início, planejara 22km, mas eu me sentia tão bem e tão feliz por estar vivendo aquele momento que fui aumentando a quilometragem e concluí ao completar 27km... Prometi a mim mesma um treino sem sofrimento e cumpri o prometido: foi um treino para curtir a paisagem, parando, quando necessário, para uma ducha ou uma água de coco... Ouvindo música, sem me estressar com a marcação de tempo... 
          Ora, podem dizer, assim é fácil percorrer esta distância! Bom, sim, assim é mais fácil... Mas quem disse que por ser mais fácil é menos importante? Ora, ora, às vezes é preciso lembrar que não sou uma atleta profissional que deve ser monitorada a todo tempo... É preciso não deixar que a ânsia por novos e melhores resultados me tirem o prazer da corrida... Sim, porque eu corro por prazer...  Eu corro para celebrar a vida, a saúde... Eu corro para me sentir mais completa... Eu não corro apenas pelo SUOR... Eu corro principalmente pela POESIA...  E a poesia está ali entre uma passada e outra... Que importa se é uma passada rápida ou lenta; pronada, supinada ou neutra; longa ou curta? São todas passadas que despertam dentro de nós uma euforia que nos leva adiante.... A poesia está em um corredor e outro que passam e cumprimentam timidamente com um aceno de mão ou um sorriso quase imperceptível; em outros que trocam com a gente algumas palavras de incentivo; em alguns que vão conversando, esquecidos da velocidade da vida: é assim que vamos nos reconhecendo como participantes de um mesmo grupo... A poesia está em sentir a água da ducha escorrendo pelo rosto, pelos braços e pernas, resfriando um corpo em ebulição... e, depois, ter o sol beijando a pele e secando cada gotícula que ali estivera... A poesia está em ver a habilidade que um vendedor retira do coco a água que em seguida vai repor os sais minerais que meu corpo perdeu... A poesia está em passar, em plena véspera de Sexta-feira Santa, perto dos vendedores de peixes e ouvi-los, mesmo que momentaneamente, negociar aquele produto que vai levar o pão para sua mesa, ou quem sabe o Ovo de Páscoa para seus filhos... A poesia está em ver um pai acompanhar seu filho num passeio de bicicleta; em ver uma mãe lambuzar a filha de protetor solar e a menina sair com o narizinho branco, correndo em busca da bola que parece atraída pelo mar... A poesia está em detalhes que precisam de tempo, de lentidão para serem notados... 
          A velocidade dos treinos, a preocupação com o tempo, com o tiro bem dado, com a quilometragem cumprida, com  a pisada perfeita tornam-nos melhores corredores, e eu estou frequentemente conectada a estes detalhes. Sim, estou em busca de meu melhoramento como corredora. Entretanto, a mulher que precede a corredora também briga por espaço: ela gosta das belezas da vida, das amenidades de uma linda manhã de sol, da celebração de um aniversário, dos sorrisos pelo caminho.... É por isto que este longão será inesquecível, porque eu pude celebrar, por inéditos 27km, não só a superação física, mas, acima de tudo, o meu jeito de viver e de comemorar mais um ano de vida...


Nas Margens de Mim (O Teatro Mágico)

Eu me senti como um rei / Me larguei, dormi, nas margens de mim / Me perdi por querer, eu não fiz, não fui / Me desaprendi // Eu quis prestar atenção / Tudo o que é menor, mais lento e baldio / Deixo o rio passar tão voraz, veloz / Me deixo ficar // Quando o sol acena, parte em mim / Diz valer a pena ser assim / Que no fundo é simples ser feliz / Difícil é ser tão simples / Difícil é ser tão simples / Difícil mesmo é ser // Me recolhi, fiquei só / Até florescer / Desapego e raiz, improviso e razão / Canto pra colher, agora e aqui // De qualquer maneira parte em mim / Diz valer a pena ser assim / Que no fundo é simples ser feliz / Difícil é ser tão simples / Difícil é ser tão simples / Difícil mesmo é ser...


domingo, 1 de abril de 2012

E COMEÇA A CONTAGEM REGRESSIVA...

" Todos os dias quando acordo,
não tenho mais o tempo que passou,
mas tenho muito tempo..."

          
           Já faz algum tempo que tenho acompanhado aqui e ali uma contagem regressiva para a Maratona da Caixa do Rio de Janeiro. No Facebook, o perfil da Maratona tem trazido esta contagem, e tenho uma amiga, Kátia Cristina, que, frequentemente, adora me lembrar que tenho dias a menos para me preparar... Causa-me certa angústia este passar do tempo, uma vez que a Maratona ainda me parece apenas um sonho... Mas um sonho que, pretendo, seja realizado no dia 08 de julho.
         Pois eis que na última sexta-feira (30/03) esta contagem ficou mais séria: faltavam 100 dias para a "danada"... Não sei bem por que  o número 100 mexeu comigo a ponto de inspirar esta crônica, só sei que mexeu... Talvez porque agora sejam: 100 dias para treinar SEM se esgotar... 100 dias para preparar corpo e mente SEM deixar que um sobrecarregue  o outro... 100 dias para estar SEM medo - apesar de que acho que o medo vai estar presente até o momento da largada... 100 dias para experimentar, SEM dúvida nenhuma, a euforia de estar na largada de uma maratona... 100 dias para atravessar a linha de chegada e me sentir uma pessoa ainda mais realizada... 100 dias para a realização deste objetivo que me propus alcançar neste ano de 2012...
          Hoje, já são menos alguns dias, e os três dígitos viraram dois...  E o tempo não para... E reforça o poeta Cazuza: "Não para não, não para..." Mas o poeta corria em direção contrária, sem pódio de chegada, sem beijo de namorada... Eu corro na direção do sonho, em busca de pódios interiores, de vitórias subjetivas, sabedora dos beijos e abraços que receberei a cada linha de chegada atravessada... E a contagem continuará decrescendo, enquanto meus quilômetros treinados crescerão... Ela continuará diminuindo, enquanto minha vontade de vencer os 42 km aumentará... E os números dos dias continuarão correndo, enquanto meu trabalho psicológico caminhará a passos controlados... 
          Sei que esta contagem está sendo feita por alguns amigos corredores e por inúmeros outros que não conheço... Sei que aqueles que já experimentaram a emoção da maratona podem entender o sentimento que toma conta de mim desde que comecei a sonhar com ela... Existem algumas pessoas sonhando comigo, mesmo que de longe, e compartilhando o mesmo sonho... Outras estão quase respirando o mesmo ar eufórico que tenho respirado... Outras, mais de perto, achando-me louca... Sim, afinal, só mesmo esses loucos que correm...
         Bom, o número 100 me deu uma puxada para a realidade. Agora, sim, sinto-me treinando para a Maratona da Caixa do Rio de Janeiro. Que venham os quilômetros treinados! Que venham as emoções  em turbulência!! Que venham as corridas como preparo!!! Virão também, eu sei, as dores, o cansaço, os medos, os intermináveis longões, as batalhas internas... Pois que venha tudo o que tiver que vir... Tudo será experiência acumulada... Tudo será bagagem útil... Tudo será vida vivida com intensidade, suor transpirado com garra, emoção sentida pelo que há de mais verdadeiro em mim... Que venha, enfim, o tão esperado dia 08 de julho, pois a MINHA contagem regressiva acaba de começar!!!
"Todos os dias, antes de dormir,
lembro e esqueço como foi o dia.
Sempre em frente!
Não temos tempo a perder..."