"Ai palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa..."
Começo o texto de hoje citando Cecília Meireles, porque reconheço o poder das palavras na vida da gente. Palavras podem construir ou destruir uma pessoa, podem confortar ou machucar, elevar ou derrubar, despertar sorrisos ou lágrimas, deixar-nos mais tranquilos ou mais apreensivos com alguma coisa... E foram palavras de um texto que me trouxeram até esta crônica. Lendo, esta semana, a revista Runner's deste mês, deparo-me com uma matéria sobre a Corrida da Ponte Rio-Niterói... Tenho minha inscrição feita para corrê-la e tenho a impressão de que seja uma corrida muito bonita... Entretanto, essa beleza começou a se dissipar de minha imaginação, dando lugar à ideia de sofrimento... Alguns amigos já me alertaram para o calor do Rio de Janeiro, numa ponte de 13km sobre o mar, sem sombra nenhuma... Sim, isso me causa um certo receio, afinal, não estou acostumada com o calor carioca. Mas confesso que as palavras do texto da revista me deixaram ainda mais encucada...
Há pouco mais de um ano, quando um colega corredor me falou a respeito desta prova e que era preciso comprovar tempo para dela participar, eu estava sonhando em fazer minha primeira meia maratona. Lembro-me de ter ficado indignada, afinal, se fosse um sonho estrear nos 21km na Ponte, isso não seria possível. Questionei essa triagem, sem entender o porquê dela... Agora começo a entender, é para evitar que pessoas não preparadas se arrisquem numa prova considerada difícil tanto por causa das condições climáticas quanto das variações altimétricas. Bom, quanto a mim, se eu pretendo dar conta de uma maratona no Rio de Janeiro, preciso me sentir em condições de fazer uma meia maratona no local. Mas aí me apareceu este texto que, confesso, intrigou-me devido à algumas palavras, expressões ou frases que não apenas nos alertam para o nível de dificuldade da prova, mas chegam a fazer dela algo amedrontador.
O texto já começa falando que não é uma prova para qualquer um. Ok, uma meia maratona realmente não é para qualquer um, principalmente no calor do Rio de Janeiro, e a necessidade de se comprovar tempo em outra meia maratona já demonstra esta questão. Logo em seguida, aparece um apelido "carinhoso" dado à corrida por um participante: "corrida da ponte do inferno". E este "inferno", provocado pelo calor, foi intensificado por algumas falhas na organização da prova, cujos erros prometem ser corrigidos este ano. Na verdade, alguns erros não podem acontecer por parte das organizações, principalmente em provas que exigem mais esforço do corredor. Falei sobre isso na crônica anterior. E volto a falar, pois se a organização da prova promete mais postos de hidratação, pontos de vaporização de água e mais postos de ajuda, é porque reconhecem a falta de uma infraestrutura melhor no ano passado. E sei que a coisa foi realmente feia: muito calor, muitas pessoas passando mal... Alguns amigos corredores comentaram sobre isso - e gostaria de pedir que relatos fossem feitos sobre a corrida do ano passado para que a gente possa estar cientes do que temos pela frente.
Depois, veio a parte da matéria que mais me chamou atenção, um quadro intitulado "Uma ponte no caminho". A professora de Literatura aqui achou linda a intertextualidade com a "pedra no caminho" do Carlos Drummond de Andrade. Mas isso não reduziu a preocupação da corredora, pois a "pedra" drummondiana, metaforicamente, pode representar um obstáculo, uma dificuldade, o que só foi reforçado nas descrições dadas sobre os trajetos da prova. Muito interessante a descrição feita por partes: sobre o "aclive longo e constante" nos 6,5km iniciais, o declive que vem em seguida, para nos preparamos para a "pior" parte da prova e uma simpática observação: "REZE PARA O TEMPO ESTAR NUBLADO"... Ao descrever o trajeto após o km 20, o texto diz que você pode se sentir em casa, "SE AINDA ESTIVER INTEIRO"...
É, obrigada ao autor do texto, conseguiu me deixar muito mais do que ansiosa pela chegada da prova... Que eu vou procurar me preparar para a prova, com certeza que vou... Que as dificuldades e as falhas precisam ser anunciadas para ficarmos alertas, claro que precisam... Mas acho que já começo hoje mesmo a rezar para o tempo estar nublado, caso contrário, corro o risco de não chegar inteira, não é mesmo? Como adoro um desafio, lá vou eu correr a Ponte e na ponte.... Espero, no dia 20 de maio, após concluir a corrida, sentar e escrever para vocês um texto cujo teor já imagino:
"Sim, TINHA uma ponte no meio do caminho, mas,
assim como a "pedra" do Drummond,
ela foi deixada para trás,
foi superada...
Um grande abraço a todos!!!
Bons treinos!!!