MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

domingo, 12 de fevereiro de 2012

UM TEXTO... UMA PONTE.... UMA CORRIDA...

"Ai palavras, ai, palavras, 
que estranha potência a vossa..."


          Começo o texto de hoje citando Cecília Meireles, porque reconheço o poder das palavras na vida da gente. Palavras podem construir ou destruir uma pessoa, podem confortar ou machucar, elevar ou derrubar, despertar sorrisos ou lágrimas, deixar-nos mais tranquilos ou mais apreensivos com alguma coisa... E foram palavras de um texto que me trouxeram até esta crônica. Lendo, esta semana, a revista Runner's deste mês, deparo-me com uma matéria sobre a Corrida da Ponte Rio-Niterói... Tenho minha inscrição feita para corrê-la e tenho a impressão de que seja uma corrida muito bonita... Entretanto, essa beleza começou  a se dissipar de minha imaginação, dando lugar à ideia de sofrimento... Alguns amigos já me alertaram para o calor do Rio de Janeiro, numa ponte de 13km sobre o mar, sem sombra nenhuma... Sim, isso me causa um certo receio, afinal, não estou acostumada com o calor carioca. Mas confesso que as palavras do texto da revista me deixaram ainda mais encucada... 
          Há pouco mais de um ano, quando um colega corredor me falou a respeito desta prova e que era preciso comprovar tempo para dela participar, eu estava sonhando em fazer minha primeira meia maratona. Lembro-me de ter ficado indignada, afinal, se fosse um sonho estrear nos 21km na Ponte, isso não seria possível. Questionei essa triagem, sem entender o porquê dela... Agora começo a entender, é para evitar que pessoas não preparadas se arrisquem numa prova considerada difícil tanto por causa das condições climáticas quanto das variações altimétricas. Bom, quanto a mim, se eu pretendo dar conta de uma maratona no Rio de Janeiro, preciso me sentir em condições de fazer uma meia maratona no local. Mas aí me apareceu este texto que, confesso, intrigou-me devido à algumas palavras, expressões ou frases que não apenas nos alertam para o nível de dificuldade da prova, mas chegam a fazer dela algo  amedrontador. 
          O texto já começa falando que não é uma prova para qualquer um. Ok, uma meia maratona realmente não é para qualquer um, principalmente no calor do Rio de Janeiro, e a necessidade de se comprovar tempo em outra meia maratona já demonstra esta questão. Logo em seguida, aparece um apelido "carinhoso" dado à corrida por um participante: "corrida da ponte do inferno". E este "inferno", provocado pelo calor, foi intensificado por algumas falhas na organização da prova, cujos erros prometem ser corrigidos este ano. Na verdade, alguns erros não podem acontecer por parte das organizações, principalmente em provas que exigem mais esforço do corredor. Falei sobre isso na crônica anterior. E volto a falar, pois se a organização da prova promete mais  postos de hidratação,  pontos de vaporização de água e mais postos de ajuda, é porque reconhecem a falta de uma infraestrutura melhor no ano passado. E sei que a coisa foi realmente feia: muito calor, muitas pessoas passando mal... Alguns amigos corredores comentaram sobre isso - e gostaria de pedir que relatos fossem feitos sobre a corrida do ano passado para que a gente possa estar cientes do que temos pela frente. 
          Depois, veio a parte da matéria que mais me chamou atenção, um quadro intitulado "Uma ponte no caminho". A professora de Literatura aqui achou linda a intertextualidade com a "pedra no caminho" do Carlos Drummond de Andrade. Mas isso não reduziu a preocupação da corredora, pois a "pedra" drummondiana, metaforicamente, pode representar um obstáculo, uma dificuldade, o que só foi reforçado nas descrições dadas sobre os trajetos da prova. Muito interessante a descrição feita por partes: sobre o "aclive longo e constante" nos 6,5km iniciais, o declive que vem em seguida, para nos preparamos para a "pior" parte da prova e uma simpática observação: "REZE PARA O TEMPO ESTAR NUBLADO"... Ao descrever o trajeto após o   km 20, o texto diz que você pode se sentir em casa, "SE AINDA ESTIVER INTEIRO"... 
          É, obrigada ao autor do texto, conseguiu me deixar muito mais do que ansiosa pela chegada da prova... Que eu vou procurar me preparar para a prova, com certeza que vou... Que as dificuldades e as falhas precisam ser anunciadas para ficarmos alertas, claro que precisam... Mas acho que já começo hoje mesmo a rezar para o tempo estar nublado, caso contrário, corro o risco de não chegar inteira, não é mesmo? Como adoro um desafio, lá vou eu correr a Ponte e na ponte.... Espero, no dia 20 de maio, após concluir a corrida, sentar e escrever para vocês um texto cujo teor já imagino:

"Sim, TINHA uma ponte no meio do caminho, mas, 
assim como a "pedra" do Drummond, 
ela foi deixada para trás, 
foi superada...
 Um grande abraço a todos!!! 
Bons treinos!!!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CADA CORRIDA UM APRENDIZADO...

"Nem sempre as batalhas da vida vão para o mais rápido ou o mais forte. 
Há momentos em que o  vencedor é quem acredita que pode conseguir."
     


     É com o relato de um corredor, e com a devida autorização dele, que começo esta crônica de hoje:

20km da corrida do Batalha, como o próprio nome diz, uma BATALHA! Sabe aquele tipo de acontecimento que faz você repensar tudo? Bem, foi isso que me aconteceu ontem... Essa corrida me disse assim... “Cara, abaixa a sua bola, tu não corre porra nenhuma! Tem que treinar mais, se alimentar melhor, dormir mais e principalmente emagrecer. E muito!”. Pus em cheque até o meu sonho de disputar a maratona! Uma corrida quase desumana, pelo menos pra mim! Um calor infernal, uma largada completamente equivocada, às 10:15h!!! Mudança de percurso,  anteriormente 18km e agora 20km, numa estrada de terra, muito, mas muito quente,  apenas três postos de hidratação. No primeiro a água estava numa temperatura ótima! Ótima para se passar aquele cafezinho. No segundo a água havia acabado e fomos socorridos por populares! Eu já estava exausto  e me pus a dar água aos corredores! E o pior estava por vir, o retorno. No começo, em companhia do meu irmão e grande amigo Bruno, depois, de carona com o mestre Capitão. Durante esse retorno, em meio a divagações e delírios, fiz um pacto comigo: posso chegar me arrastando, mas vou terminar essa porra! Entre coxas estouradas e ânsias de vômito, no fim, tudo se salvou! Mas ficam algumas lições, correr não é pra qualquer um, pois uma deliciosa corrida pode se transformar em um martírio! E a principal delas é que, por pior que sejam as condições, sei que nunca irei desistir! (Vanderley Meurer Junior - Juiz de Fora)

     Eu não participei da prova, posso estar sendo leviana ao comentá-la, mas esse relato me faz pensar algumas coisas. Primeiro: o desrespeito com o corredor. Num domingo de verão, em Juiz de Fora, cidade quente, começar uma corrida de 20km às 10:15 deveria ser algo inimaginável. Aliás, mesmo em uma corrida de 6km, porque houve essa opção de distância também. Largada tardia, calor, trajeto pesado... Penso que mesmo o horário de 9h, que seria o previsto para a largada, é complicado para correr no verão. Para piorar, a falta de água. Se havia água suficiente para o número de corredores inscritos para a prova, é o mínimo que se espera, por que faltou água no segundo posto? Não seria porque o calor das 10h ou 11h obrigou os corredores a beber mais água do que o previsto? Água quente? Não me espanta se alguns corredores reclamaram de ânsia de vômito... E se não houvesse populares distribuindo água? O risco de um corredor passar mal, desidratado, foi grande... Já participei de provas em que o horário da largada não foi respeitado, em que faltou água, em que a água estava quente... Imprevistos acontecem? Claro!!!! Mas que não aconteçam com frequência... Organizar uma competição requer um mínimo de infraestrutura e respeito aos corredores... Podemos até pensar no bom-senso do corredor que, ao sentir que não vai aguentar completar a corrida ou manter o ritmo que previa, deve reduzir ou parar antes que passe mal. Tudo bem, se o corredor se esforçou além do previsto, ou se naquele dia da competição ele não estava bem... Pelo menos, não foi por problema de infraestrutura, e a responsabilidade é toda dele. Mas, além do desgaste que o corpo dos corredores sofre a cada corrida, que já não é pequeno, sofrer ainda mais por falta de organização é inaceitável....
     Segunda reflexão que o comentário acima me despertou: a necessidade de um bom preparo para as corridas. Tudo bem que é muito bom, depois, olhar para trás e ver que conseguimos vencer uma corrida difícil. Mas penso que, para nós, que não somos profissionais da corrida, ficar sofrendo para completar um percurso não é uma boa... Claro que vez ou outra isso é inevitável, ou que seja um pequeno sofrimento a cada prova... Mas que seja pequeno, porque eu, pelo menos, quero que a corrida me faça feliz. Se ela começar a se tornar um martírio para mim, vai perder a razão de ser... Adoro desafios, superação, sou movida a eles... Mas espero sofrer mais nos treinos,  aprender a superar meus limites neles, perceber a necessidade de aumentar ou diminui-los na medida certa.  Para isso eles existem... São nosso aprendizado... Sofri recentemente numa prova pequena, porque eu estava com o corpo cansado. Participei de  uma corrida sábado à tarde e outra no domingo pela manhã. Meu corpo não está acostumado com isso. Foi sofrido, doído, senti o que o corredor acima disse: "Pus em cheque até o meu sonho de disputar a maratona!". Eu também pensei isso quando sofria naquele trajeto, mas depois vi que foi sofrido porque não dei ao meu corpo o  descanso que ele precisava. Um amigo, corredor experiente, disse-me: vez ou outra é bom fazer essas loucuras, mas apenas vez ou outra... Fiquei a semana passada toda sem correr por dor no pé... Pagamos pelos excessos que cometemos... É preciso que a prudência fale mais alto que a nossa ânsia de superação... Que a razão consiga sobressair-se sobre a endorfina e que, sobretudo, saibamos respeitar os limites do nosso corpo... Ele pode muito mais do que imaginamos, é verdade, mas ele precisa de cuidados...
     Ah... o terceiro ponto: superação!!!!! Adoro essa palavra!!!  É... é preciso respeitar o corpo.... É preciso ter prudência... Mas é preciso não desistir dos sonhos... Mesmo dolorida, com bolha no calcanhar, corpo cansado, aquela corrida a que me referi foi concluída e ainda me deu meu primeiro troféu... Mesmo se sentindo martirizado, "entre coxas estouradas e ânsias de vômito", o corredor acima concluiu sua corrida... Doeu? Fez alguma coisa errada? Era um trajeto além do que aguentava? Não deram a infraestrutura que deveriam dar? Pois bem... agora é repensar as ações, os planejamentos, as preliminares das corridas... É se alimentar direito, descansar adequadamente... E escrevo isso porque eu estou tentando ME convencer da necessidade de tudo isso. A gente aprende com as experiências dos outros... Gostaria muito que esse blog servisse para essas trocas de relatos. Nós aprendemos muito ouvindo os companheiros. Tenho ouvido muito corredores mais experientes... Meu sonho da maratona é tão intenso, e eu sou tão intensa nas coisas de que gosto e desejo, que tenho medo de meter os pés pelas mãos, de cometer excessos, de me lesionar... E repito para MIM mesma: é preciso prudência, paciência, avanço gradual, descanso... Mas desistir do sonho? Jamais!!! No máximo, adiá-lo, quando e se houver necessidade...


"Tente! / E não diga / Que a vitória está perdida / 
Se é de batalhas / Que se vive a vida / 
Tente outra vez!"