Hoje quero falar de
aprendizagens... Corrida e aprendizagens... Quando entramos no mundo das
corridas, não temos ideia de tudo o que faz parte desse mundo: desde uma
simples maneira de pisar até um aparato tecnológico. E, com o tempo, vamos aprendendo
(nem que seja na marra) a ouvir e, principalmente, a respeitar o corpo...
Vejo corredores contando orgulhosos,
vangloriando-se, porque terminaram uma corrida passando mal, tiveram enjoo, vomitaram,
quase rastejaram para concluí-la... Eu,
em seu lugar, fico preocupada se isso acontece comigo, pois demonstra, na
maioria das vezes, um despreparo, um abuso do corpo. Claro, que há dias em que
estamos sujeitos a qualquer indisposição, por mais treinados que estejamos. Não
me refiro a isso. Refiro-me a pessoas que pulam etapas, como se correr o dobro
do que estão acostumadas a fazer não fosse gerar nenhum estresse para o
organismo.
Com a popularização das corridas,
nesta fase de incentivo à saúde que estamos vivenciando, muita gente que mal começou
a praticar a atividade já se inscreve em provas de 10 km, 21 km e, quiçá, 42 km...
É normal o desejo de superação. Normal e necessário. É ele que nos mantém vivos
e sedentos de vida. Mas é preciso cautela, é preciso aprender muito com a corrida
e sobre o corpo... Não somos atletas profissionais que precisam dar a vida pelo
esporte. Somos amadores e amantes da corrida e, para não perdermos o prazer que
ela nos proporciona, para não transformarmos uma corrida na última, é
necessário, sobretudo, respeitar o corpo. Quantas pessoas recém-inseridas no
mundo das corridas estão aparecendo com lesões e, em meio a tratamentos, abusam
dos treinos, sem dar o tempo necessário para a recuperação? Tem se tornado uma
constate isso.
Eu entendo completamente a
paixão, a gana de endorfina que a corrida nos desperta. Quem começa a correr
quer mais e mais... Treinar todo dia, participar de todas as provas... E quando
sobe ao pódio, então? Aí o afã de querer mais e mais fica ainda mais forte... Já
vivi os ímpetos do querer mais e mais. Já senti o gostinho do pódio. Sei o
prazer que a autossuperação nos proporciona. E vou continuar sendo assim, mas
agora de modo mais atento, talvez mais maduro, sem os ímpetos do começo...
Depois de encarar minha primeira
lesão grave, tenho pensado muito nisso tudo, em como é preciso aprender a ouvir
o corpo. Ele nos dá sinais constantemente, mas na maioria das vezes não os
ouvimos, ou fingimos não os ouvir e acabamos por ignorá-los... Hoje, em fase de
recuperação, retomando de leve os treinos, presto atenção aos detalhes mínimos
que sinto. A vida fez da minha lesão um aprendizado forçado.
Infelizmente, aprendemos muito
com os erros que cometemos... Os conselhos que nos são dados por pessoas mais
experientes muitas vezes são ignorados, não pensamos que algo pode acontecer
com a gente. Afinal, está tudo correndo tão bem, não é mesmo? Mas o que está
acontecendo lá por dentro só se torna visível depois, quando aqueles sinais
ignorados resolvem gritar. Aí, não há mais maneira de fingir que não os estamos
ouvindo...