Em fevereiro, após ler uma matéria sobre a Corrida da Ponte do ano passado, publiquei uma crônica sobre a expectativa em relação a essa prova. E a expectativa era de uma corrida muito difícil. Terminei meu texto com as seguintes palavras: "Espero, no dia 20 de maio, após concluir a corrida, sentar e escrever para vocês um texto cujo teor já imagino: sim, TINHA uma ponte no meio do caminho, mas, assim como a "pedra" do Drummond, ela foi deixada para trás, foi superada..."
Pois bem, tinha uma ponte por quase todo o percurso e foi um prazer imenso passar sobre ela e perceber que os monstros do calor e da pouca hidratação se mantiveram afastados este ano. Não foi uma prova difícil, pelo contrário, foi minha Meia Maratona mais tranquila, entre as quatro que já realizei. A cada corrida estamos um pouco mais preparados, nos tornamos mais experientes e a tendência é que realmente as provas comecem a ser tornar menos pesadas... E o receio de que fosse uma prova difícil fez com que eu fosse com a intenção de curtir a prova e sofrer o menos possível... E assim foi... E, com certeza, foi uma prova linda!!!! E é sobre esta beleza que eu desejo falar. Começo pelo cenário:
’Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...
Parafraseando esta estrofe de Castro Alves, num contexto completamente diferente do empregado por ele, posso dizer que era possível presenciar o abraço do céu com o mar no horizonte, numa linda manhã de outono carioca. Bastava desviar um pouquinho que fosse a atenção da corrida e olhar para qualquer um dos lados que se presenciava um espetáculo natural.
E nós, ali, insignificantes em meio a tanta grandiosidade. Não foi uma ou duas vezes que me peguei agradecendo à vida por aquela oportunidade, foram várias essas vezes... Em outros momentos, pegava-me distraída com os pássaros que sobrevoavam a ponte. Cheguei mesmo a pensar ter visto um albatroz, o rei do oceano, planando lindamente sobre nós, asas imensas... E, novamente, me recordei do poema de Castro Alves:
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
E é como se tivéssemos asas, ali, sobre o mar, correndo em busca de superação, de realização de sonhos, de um encontro íntimo conosco. E seguimos... Aquela multidão de pessoas rumo ao mesmo destino, embora cada uma tivesse trilhado diferentes caminhos para chegar até ali.... Pessoas de vários lugares, diferentes estados, diferentes credos, diferentes gostos, diferentes idades, mas todos com a paixão pela corrida em comum. Paixão que tem aproximado muitas pessoas, que tem feito delas amigos virtuais e, posteriormente, amigos reais. E dos encontros e reencontros que aconteceram neste fim de semana, também tenho algo a dizer...
Tudo começou quando resolvemos marcar um encontro de corredores na véspera da prova para uma confraternização. E os amigos virtuais começaram a se organizar para o encontro, criou-se uma grande expectativa e, no entardecer do sábado, estávamos lá, tornando-nos reais, como saídos da tela dos computadores para o mundo concreto. Interessante é que tive a sensação de que já conhecia muito algumas daquelas pessoas... Quantas vezes não havíamos trocado uma frase de apoio um com outro? Quantas vezes não tínhamos feito um desabafo? Relatado uma ansiedade em relação aos treinos, aos sonhos como corredores? Quantas vezes não tínhamos curtido uma foto uns dos outros? O mundo virtual é bonito quando fazemos dele um meio para tornar real bonitos encontros e reencontros...
E os laço vão se fortalecendo... Fui recebida na casa de um amigo, cujo contato também começou pela internet... Difícil agradecer tanta atenção e carinho... Tive a companhia de outro amigo por toda a corrida alguém que tem sido por demais especial em minha vida nos últimos tempos... Difícil não ver em cada um desses contatos um pouco de poesia, um pouco de emoção... cada abraço trocado, cada sorriso esboçado, cada pose para foto, cada palavra de apoio, cada passada compassada...
O que vale na vida é tudo isto: são os quilômetros percorridos, que nos garantem uma vida mais saudável; são as conquistas pessoais, que somente cada um sabe o valor que possuem; são as amizades que vamos fazendo pelo caminho; são os momentos felizes que compartilhamos...
O que vale na vida é tudo isto: são os quilômetros percorridos, que nos garantem uma vida mais saudável; são as conquistas pessoais, que somente cada um sabe o valor que possuem; são as amizades que vamos fazendo pelo caminho; são os momentos felizes que compartilhamos...
E ainda há quem pergunte o que a gente ganha correndo... É preciso mesmo responder? Esta crônica eu ofereço a vocês, meus amigos. Que possamos atravessar muitas pontes pelos nossos caminhos, juntos ou separados. E que saibamos, acima de tudo, saborear o momento da travessia... Porque a vida não passa de uma travessia, às vezes difícil, às vezes nem tanto, mas sempre muito, muito, muito linda!!!!
Viver! / E não ter a vergonha / De ser feliz /
Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser / Um eterno aprendiz... /
Ah meu Deus! / Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser / Bem melhor e será /
Mas isso não impede / Que eu repita /
É bonita, é bonita / E é bonita...
Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser / Um eterno aprendiz... /
Ah meu Deus! / Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser / Bem melhor e será /
Mas isso não impede / Que eu repita /
É bonita, é bonita / E é bonita...