MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

domingo, 20 de janeiro de 2013

A SÃO SILVESTRE DE CADA UM DE NÓS....

Foi preciso deixar passar alguns dias, deixar as emoções se acomodarem, para poder escrever sobre a Corrida de São Silvestre. Desde que comecei a correr, há quase 3 anos, que as pessoas me perguntavam se eu já havia feito a São Silvestre e, quando eu dizia que não, elas pareciam decepcionadas... Eu procurava explicar que já havia feito corridas mais longas e que, para mim, eram de peso muito maior, como meia maratona e maratona. Mas, ainda assim, as pessoas se mostravam insatisfeitas. Pareciam pensar: "Mas que corredora é você que não correu a São Silvestre?". O mais engraçado é que são pessoas que não correm... Foi quando eu comecei a procurar entender o que a São Silvestre teria de diferente ou especial...

Em 2011, cheguei a me inscrever para a prova, queria ter a São Silvestre no currículo para poder responder: "Sim, eu já corri a São Silvestre!". Mas, por motivos alheios à minha vontade, acabei não indo; e assisti à corrida com um aperto no peito muito grande. Era para eu estar lá, mas eu não estava... Mas veio 2012, muita coisa mudou em minha vida e lá estava eu, entre 25 mil corredores... Uma prova para não pensar em tempo, eu queria curtir, percorrer aqueles 15 km como uma celebração do ano que findava e que me trouxera tantas experiências boas...

Manhã do dia 31 de dezembro, Avenida Paulista. Um mar de corredores tomando conta do espaço. Bonito de se ver. Emocionante de participar. Estar ali era de fato uma celebração. A celebração de uma vida melhor, mais saudável. De uma vida que, hoje, pesa menos no corpo, nos ombros, na alma... De uma vida que requer disciplina e determinação... De uma vida que faz de mim uma mulher mais feliz e realizada....

Estar ali era olhar para trás, para a moça que saiu da casa da família, há 5 anos, com 30 kg a mais, e recordar a mudança pela qual havia passado: a matrícula em uma academia, muito suor enxugado em cada aula de jump, spinning, step... Cada músculo dolorido que tentava ocupar o espaço que ia sendo deixado livre sob a pele à medida que eu emagrecia... Estar ali era lembrar a moça, já magra, começando a dar seus primeiros trotes de 1 min infindável; 1 min em que o corpo clamava por um oxigênio que parecia faltar; 1 min em que as pernas imploravam para parar... E o tempo foi passando, e aquele minuto foi aumentando e deixou de ser contado em tempo para ser medido em distância: 1 km, 2 km, 3 km, 4 km, 5 km (e a estreia em provas), 10 km, 16 km, 21 km (o sonho da meia maratona) e o desejo maior dos 42 km (aquele minuto foi se multiplicando, multiplicando e chegou a 4h24min)...

Aquela Lílian que foi criada no interior não podia imaginar que sairia de lá rumo a uma vida literalmente corrida... Virou corredora, virou maratonista, foi ser feliz em outras paragens e chegou à São Silvestre para relembrar tudo isso e celebrar...

Hoje eu entendo que eu precisava viver o clima da São Silvestre. Estar ali é mágico. Há uma aura sobre esta corrida. Talvez pela data, pela quantidade de pessoas, pela tradição... Foi a única corrida até hoje que eu desejei que não acabasse...Correria mais e mais quilômetros curtindo cada rua, a companhia da amiga Gleice Medeiros, as diferentes pessoas pelo caminho. E quantas diferenças: jovens, idosos, magros, gordinhos, deficientes, diferentes raças e nacionalidades: mas todos unidos pela corrida.

Entre aquelas 25 mil pessoas, 25 mil novos capítulos de vida estavam sendo escritos ali. O meu foi um capítulo ao estilo flashback, para olhar para trás e agradecer demais o presente e me manter firme em meus propósitos e valores para ter um futuro ainda melhor... O relato de amigos comprova isso, sentimos a emoção que eles sentiram também quando lemos suas palavras ou vemos suas imagens:


"Era uma vez uma garotinha tímida e franzina, lá do interior da Bahia, que todos os anos, desde que se entendeu por gente, se “plantava” na frente da TV no último dia de dezembro para assistir à Corrida de São Silvestre. Ela não entendia o porquê, mas vibrava com a corrida, e sempre repetia: um dia eu vou correr aí. Com o passar dos anos, ela se mudou para o Espírito Santo, foi sendo engolida pela vida e o sonho foi parar no fundo da gaveta da memória. E todos os anos, no último dia de dezembro, depois de assistir a “São Silvestre”, ela abria a gaveta, olhava para o sonho e repetia: um dia eu vou correr aí. O tempo passou, e um belo dia a garotinha tímida e franzina, agora já na metade da vida, foi picada pelo bichinho da corrida. E correu, e correu, e gostou, e correu muito mais. E encontrou um bando de loucos que corriam, e fez muitos amigos, e correu mais e mais. Correu tanto que passou a acreditar que o sonho da menina tímida e franzina poderia sair definitivamente da gaveta da memória e se mudar para o mundo real. Em 31.12.12 ela correu a São Silvestre... com lágrimas nos olhos e o coração na boca. De vez em quando ainda abre a gaveta, só pra confirmar se o sonho saiu mesmo de lá. É que nem ela acredita..." (Eubenes Moreira)


"Ela nem estava nos meus sonhos, mas não é que ela foi um sonho de corrida! (...) Chegar de viagem e ouvir da minha mãe que não conseguiu assistir a São Silvestre... Pq chorava de emoção e de orgulho por saber que eu estava lá, sem sombra de duvida não tem preço... Ela sabe por tudo que passei e o que sou hoje... E saber que ela tem orgulho de mim é bom de mais da conta, sô!!!"(Gleice Medeiros)


"Me lembro muito bem do dia 31 do ano passado [2011] eu sentado num sofá em Marataízes, chorando por não estar na São Silvestre. Hj choro por estar aqui!!! Obrigado, Senhor!" (Thiago Pateta)



E o relato em vídeo, do amigo Maximilian Garcia de Barros:


E a gente vai levando a vida assim: sendo feliz à nossa maneira. Escrevendo capítulos emocionantes para nossa história....

sábado, 19 de janeiro de 2013

UM CORRIDO ANO-NOVO PARA TODOS NÓS! (Texto escrito para a coluna "Pé no chão", de Julius Carvalho em A Gazeta, de Vitória, dia 12/01/13)


Fiquei pensando muito sobre o que escreveria para vocês nesta minha primeira participação aqui na coluna “Pé na Rua”, em 2013. Entretanto, escrever com emoção não combina com pensar, por isso eu vou deixar a emoção fluir e as palavras e ideias combinarem entre si...
Início de ano é sempre a mesma coisa, fazemos planos, traçamos objetivos, começamos dieta, e academia, e treinos... Prometemos fazer isso e não mais fazer aquilo... Sonhamos correr mais ou melhor...  Começamos a namorar algumas corridas: “Será que eu me inscrevo em minha primeira prova?” /  “Será que consigo esta?” / “Será que terei grana para aquela?” /  “Será que eu me arrisco em uma maratona?” / “Será que entro para uma assessoria?” Será? Será? Será? Penso que esses questionamentos nos servem como mola propulsora para ações que poderão – se não modificar nossa vida – nos fazer mais felizes e realizados. Porque é disto que precisamos na verdade: de felicidade e realização; e não falo do lado material, mas de nossa realização enquanto seres humanos. Somos seres frágeis, buscando sonhos árduos. Somos seres fortes, fragilizados pelas emoções. Mas somos, sobretudo, seres desejosos: de vida, de felicidade, de satisfações, de amores...
Quer saber? Faça por onde transformar esses “serás” em sonhos realizados... Eu já estabeleci o meu para as corridas deste ano e para alcançá-lo vou precisar abrir mão de muitos outros, de muitas corridas. Mas tudo na vida é feito de escolhas, não é mesmo? Escolha seu sonho maior para 2013 e corra literalmente atrás dele, até chegar ao ponto em que você não estará mais atrás dele, mas junto com ele, experimentando-o, realizando-o. Depois, você vai ultrapassá-lo e olhar para trás cheio de orgulho, quando vir que conseguiu o que tanto queria...  Então, que venham a segunda quinzena do ano, o próximo mês, e o outro, e o outro... E que 2013  nos encontre preparados para nossas travessias, nossas linhas de largada e chegada... ‘Bora, meus amigos, correr por aí, porque não nascemos para ficar parados! Não mesmo!!!

UM DOURADO SORRISO MOLHADO... (Texto publicado no jornal A Gazeta de Vitória, Revista AG, em 06/01/2012)


Um amanhecer. Uma menina. Uma bicicleta... E o que era para ser apenas uma pedalada pela orla virou um momento de explosão... Uma explosão interna, uma epifania de humanidade...

Sabe quando um momento que era para ser corriqueiro toma a proporção de uma vida? Quando você se pega envolvido de tal forma em uma situação que não consegue se desvencilhar dela? Aquele sol brilhando sobre o mar, refletindo uma luz dourada, foi me tomando de tal modo que pareceu me sufocar. Criou uma espécie de bola de energia no meu peito, que foi inchando, inchando e despertou em mim sentimentos incontroláveis... Uma vontade enorme de agradecer pela vida, por aquele momento... Um momento tão todo-dia, tão todo-mundo e de repente tão-único, tão-meu... E eu não sabia se continuava pedalando ou se parava... E aquele acúmulo de energia dentro de mim começou a se desprender em forma de lágrimas... E a vista foi ficando embaçada e a garganta e o peito sufocados... Mas ao mesmo tempo eu sorria... Sim, eu sorria... E pedalava e sorria e lacrimejava... Como numa epifania, aquele foi meu grande momento... O momento em que me descobri viva... Pequena diante daquela emoção; grande por me sentir pulsante... Um pontinho insignificante debaixo daquela imensidão de azul e dourado; um ser em êxtase tomado por tanta energia...  
São momentos assim que nos fazem mais humanos, desde que não estejamos imersos na engrenagem do dia a dia, robotizados pelo universo capitalista. Desde que tiremos alguns minutos para apreciar o que há de belo num mundo em que insistimos em ver o lado feio. Que nos momentos de transição (2012-2013), nossa retrospectiva não selecione apenas nem majoritariamente os acontecimentos negativos. É preciso ver os saldos positivos. É preciso se sentir humano, se fazer humano, se permitir SER humano... Sentindo o raio do sol sobre a pele, inebriando-se com o azul do céu de verão, refrescando-se com a brisa marítima, sentindo os pés afundarem-se na areia úmida, recém-beijada por uma onda que se esquiva de nossas passadas. É preciso ouvir os sorrisos das crianças, ler os bons-dias dos estranhos, tocar o cantar dos pássaros... É preciso um instante de silêncio, de solidão, de imersão egoísta em nosso ser: sem máquinas, sem computadores e celulares, sem redes sociais, para que momentos tão todo-dia, tão todo-mundo, tornem-se tão-únicos e tão-íntimos. Para  que o homo sapiens, tão dominador de tudo, tão dominador de todos, seja capaz de se entregar às emoções e deixar, que seja por minutos apenas, ser dominado pela humanidade que há em si.
Um amanhecer.
Uma menina.
Uma bicicleta.
 E um dourado sorriso molhado pelo caminho...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

POR QUE CORREMOS? (Texto publicado no jornal A gazeta (Vitória), na coluna "Pé no chão", de Julius Carvalho)




Por que eu corro? Por que você corre? Por que nós corremos? Não, este não é um texto sobre conjugação verbal... Não é a professora de Português que há em mim que escreve... Quem escreve é a corredora e, por isso, este é um texto sobre paixão, sobre adrenalina, sobre endorfina... Sobre este vício que nos deixa “ligados”,  que nos faz madrugar, que nos leva de um lugar a outro para treinos e provas,  que às vezes nos faz viajar 500 km / 1000 km para correr 10 km / 20 km.... É um texto para falar de entrega, de amizades, de prazer... Falar de superação, objetivos, diversão... Expectativas, encontros, abraços e sorrisos... Falar de suor, de músculos cansados, de grito eclodindo do fundo do peito... É um texto para falar de identidade...
Por que eu corro? Porque a corrida se entranhou em mim de tal modo, que se fundiu tanto a meus “eus”, que falar de mim é necessariamente falar da corredora... Por que você corre? Se você está lendo esta página, acredito não ser por acaso... Deve haver em você um pouquinho (ou muito, “muitão”  mesmo) dessa identidade que é tão minha e de tanta gente... Por que nós corremos? Ora, porque sem a corrida nós não somos mais tão completos, não somos mais tão plenos, não somos mais tão felizes....

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

SOBRE MEDALHAS E VALORES (Crônica publicada na edição nova da revista Boratreinar, nov. 2012)


Olho para a parede, às vezes "viajo" nas medalhas ali expostas, relembrando as histórias encravadas nelas... Quantas histórias! Quantas pessoas especiais se camuflam ali! Batem saudades, a emoção aflora, dizendo para mim que as histórias se passaram sim, mas que bom que elas ficam na memória... E que mesmo que provoquem lágrimas, elas são responsáveis pela mulher que sou hoje, pela corredora que sou hoje, pela escritora que sou hoje... Que bom que elas fazem de mim uma mulher DE SUOR E POESIA...

Os seres humanos têm o hábito de colecionar objetos, os mais inusitados possíveis... Minha coleção mais preciosa no momento é a de medalhas... E hoje me deu vontade de escrever sobre elas... As medalhas que vamos acumulando nas paredes. Na verdade, não é o objeto em si que importa... Importa a história que cada uma das medalhas carrega incrustada nela... Esses objetos, cada um de um tamanho, um formato, uns muito bonitos, outros nem tanto - às vezes com a fita mais bonita que a própria medalha - são a prova visível da estrada que vamos percorrendo neste universo da corrida... É muito suor transpirado, muito treino realizado, muita abdicação... Às vezes, passamos por dores físicas, lesões... Mas também é muita alegria, muita euforia, muita superação... É muita amizade que vamos fazendo pelos caminhos; é muita vida em efervescência que vamos experimentando pelos trajetos...
 As medalhas ficam ali, enfeitando a parede, dando-nos orgulho de nossas conquistas; mas elas pegam pó, às vezes oxidam, vão se desgastando com o tempo... Só que elas dizem muito, mesmo que empoeiradas, mesmo que oxidadas... Sim, elas dizem muito...  Às vezes escolho uma, pego e começo a me lembrar de como foi a corrida, quando foi, com quem eu estava, em que momento da minha vida ela aconteceu... As medalhas funcionam como um diário das nossas corridas...
Cada um de nós escolhe um critério para organizá-las, ou às vezes não adotamos nenhum critério, e elas vão sendo penduradas aleatoriamente... Eu agrupo por diferentes “pesos”, digamos assim: em um porta-medalhas, as que representam as corridas que considero mais marcantes... Em outro, as corridas deste ano; em outro, as demais... E elas vão migrando de um lado para outro à medida que mais corridas vão sendo realizadas...
E não é a quilometragem que importa na classificação das mais marcantes: ao lado da medalha da minha maratona está a medalha dos meus primeiros 5 km... Assim como a dos primeiros  10 km, das primeiras 10 milhas, da primeira meia... E junto a elas estão as medalhas especiais de premiação por faixa etária...  Cada corrida gera uma história única: os primeiros 5 km têm tanto peso quanto os 42 km, dois anos e meio depois... A primeira corrida tem a marca da superação inicial... Aquele estágio em que resolvemos sair do conforto do sedentarismo para uma vida ativa... A marca das primeiras dificuldades, das primeiras dores musculares; mas também das primeiras euforias provocadas pelo “bichinho da corrida”, da primeira emoção de atravessar a linha de chegada... Depois as metas vão aumentando, os desafios também, e cada distância trará suas próprias emoções...
Não é assim, meu amigo leitor? Meu amigo corredor? Não importa quantas medalhas você tenha... Que seja uma... Dê uma olhada diferente para ela hoje... Se você já tem várias, escolha uma aleatoriamente, pegue-a e procure lembrar como foi  a corrida que ela representa... Com quem você estava? Onde aconteceu? Qual era seu objetivo naquele momento? Tem fotos desta corrida? Pegue-as, veja suas expressões: eram de alegria, de cansaço, de esforço? Tente lembrar a emoção que sentiu ao terminar a corrida...
Que bom que somos feitos de lembranças!!! Que bom que alguns objetos no ajudam a reativar essas lembranças!!! Receio que chegue um dia em que o acúmulo das medalhas me faça perder o controle sobre as histórias e as emoções... Mas até esse dia chegar, ‘boratreinar, meus queridos leitores!!! ‘Bora correr e trazer muitas, muitas, muitas histórias para casa!!! ‘Bora colocar no peito muitas emoções!!! ‘Bora enfeitar nossas paredes de amigos, sorrisos, lágrimas e superações!!!
                                                       Foto: Gleice Medeiros

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

MUITO ALÉM DO LADO MATERIAL....

Você corre para quê? Por saúde? Pelas amizades que se constroem? Pela superação? Há pouco tempo "descobri"  ou "me contaram" que, diante de minhas metas, não posso dizer que corro por saúde... Que o esforço a que submeto meu corpo, treinando para os 42 km (ou mais, como já sonho), pensando em um pouquinho mais de velocidade, promove um desgaste físico que não me permite dizer que corro pela saúde... Sei lá... Qual seria o limite entre o que é saudável e o que não é na corrida? Não sei...

Corro pelas amizades? Basta olhar minhas fotos no facebook e perceber o quanto algumas companhias têm se tornado constantes em alguns treinos e corridas... A família de corredores é sempre muito unida e alegre, esta família que encontrei aqui no ES tem só fortalecido essa afirmativa. É uma turma linda de verdade! É minha família em terras capixabas...

E a tal da superação??? Acredito que grande parte dos corredores deseja se superar de alguma forma: aumentar distâncias, velocidade, melhorar suas marcas pessoais... Seja atravessar sua primeira linha de chegada; seja correr mais 100 m, 200 m, 500 m... 1 km... Seja correr a mesma distância em menos tempo ou de modo mais confortável... Qualquer caso desses e outros inúmeros é superação... Cada um sabe da sua e, se para o outro ela pode parecer pequena, para a pessoa ela é imensurável....

Há também uma parcela de corredores que se cobra um pouco mais e, após cruzar várias linhas de chegada, começa a sonhar e a projetar uma medalha a mais na mesma prova, uma colocação entre os primeiros da faixa etária ou na classificação geral... E o momento de consagração dessas superações se dá com a subida ao pódio. Às vezes é apenas um degrau, alguns centímetros que se afastam do chão, mas subir esse degrau equivale a realizar uma verdadeira escalada, que começou com aqueles trotes iniciais, difíceis, sôfregos, quando deixamos de ser um sedentário e passamos a nos aventurar neste terreno das corridas. Aqueles poucos segundos em cima desse degrau podem representar toda uma vida, podem celebrar a cura de uma doença, a vitória frente à obesidade. Para quem "está de fora" pode parecer supérfluo, apenas um detalhe... Mas para quem conquistou qualquer marca a mais, aquele é o seu momento de consagração: aquele momento em que o corredor atravessa a linha de chegada e beija o chão, que abraça o amado ou a amada que o espera;  que beija a medalha balançante sobre o peito... E quando se espera o nome ser anunciado? Ao ouvi-lo, o grito vai eclodindo lá de dentro do peito, invadindo a garganta e explodindo num êxtase de satisfação; às vezes é quando as lágrimas que marejam os olhos se tornam tão caudalosas que escorrem pelos cantos dos olhos, que já não comportam tanta emoção... Ou é o sorriso esbanjado que vai se formando e parece não caber na moldura do rosto...

Ah, não privem um corredor desse seu momento tão seu e ao mesmo tempo tão nosso... Não, não o privem de escalar uma vida toda durante aquelas frações de segundos que duram a subida ao degrau... Não o privem da foto que eterniza o momento... Privá-lo desses instantes equivale a ver uma comédia e não se divertir, a ver um drama e não se emocionar, a esperar por um orgasmo e não gozar... Fica a sensação de uma emoção que se preparou para ser expurgada, mas precisou ficar contida... Ela fica ali, como entalada no peito, tendo que ser diluída, quando deveria ter sido deliciosamente liberada...

Permita ao corredor ser um sujeito completo, seja buscando sua saúde, seja correndo com seus amigos, seja almejando suas pequenas e progressivas vitórias... Disse o poeta: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". E cada um sabe a dor e a delícia de se entregar de corpo e alma às corridas, aos treinos, à disciplina... De se doar por inteiro por alguns quilômetros e correr, correr, correr... E querer alcançar seus pódios, suas marcas e medalhas... Suas pequenas consagrações diárias... Permita-lhe se emocionar... Ali não está apenas um corpo que corre e se satisfaz com  a endorfina na veia e com os músculos que latejam, acusando o esforço feito; não é apenas físico... Ali está um ser que se emociona, que sente além do físico, que vibra com o que há além da matéria das medalhas e dos troféus e dos degraus...

"Você não sabe o quanto eu caminhei pra chegar até aqui /percorri milhas e milhas antes de dormir / eu não cochilei/ os mais belos montes escalei / nas noites escuras de frio chorei..."

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MATÉRIA PUBLICADA NO SITE TERRA: "Professora cria paixão por esporte e perde 24kg correndo"



Professora cria paixão por esporte e perde 24kg correndo

16 de outubro de 2012 07h58
Mineira da cidade de Barroso, a professora Lílian Moreira, de 33 anos, começou a correr no início de 2010 para manter forma, depois de quase chegar à .... Foto: Bruno Fernandes/Terra
Mineira da cidade de Barroso, a professora Lílian Moreira, de 33 anos, começou a correr no início de 2010 para manter forma, depois de quase chegar à obesidade, e hoje diz não conseguir mais viver sem a prática
Foto: Bruno Fernandes/Terra
Os motivos que levam uma pessoa a praticar corrida podem ser os mais variados.  Mas a razão pela qual elas não conseguem mais deixar o esporte depois é uma só: paixão. Esse é caso da professora Lílian Moreira, de 33 anos. Mineira da cidade de Barroso, ela começou a prática no início de 2010, como exercício para manter forma. A professora conta que antes disso chegou a um estágio inicial de obesidade, pesando 86kg, com seu 1,64 m de altura, até que resolveu tomar uma atitude para mudar isso. "Me matriculei numa academia, comecei a mudar meus hábitos alimentares e aos poucos fui emagrecendo. Foi aí que uma amiga de academia me chamou para participar de uma corrida de 5km em Juiz de Fora (MG), onde eu morava na época. Nunca havia corrido na minha vida, mas resolvi aceitar a proposta. A corrida entrou na minha vida a partir daí. Era a motivação que faltava para ajudar a me manter em forma", conta.

A corrida em Juiz de Fora, marcada para julho de 2011, acabou não ocorrendo e a estreia de Lílian acabou acontecendo em agosto do mesmo ano, em Belo Horizonte, numa prova de 5km. O princípio, recorda ela, foi difícil como tudo que se faz pela primeira vez na vida. "Lembro do primeiro treino, quando intercalava quatro minutos de caminhada com um minuto de trote. Era difícil, doía tudo, faltava fôlego, mas era motivador. Costumo dizer que as pessoas precisam ser persistentes no início, para vencer o desconforto inicial, e ser pacientes, porque ninguém sai correndo 10km logo de cara. Se conseguirem deixar o prazer da corrida invadir, acabam fisgadas", afirma, dizendo que sua persistência foi motivada em primeiro lugar pelo objetivo de cumprir a prova, a seguir pela vontade de se manter em forma e depois pelo prazer que a prática lhe proporcionou.

Desde então, a professora confessa que acabou se viciando em correr e não parou mais. "Hoje, eu respiro corrida 24h por dia. Gosto de divulgar isso, mostrar como podemos mudar a vida com determinação e disciplina. Este ano realizei o maior sonho que tive até hoje, que era completar minha primeira maratona. Foi simplesmente indescritível", comenta Lílian, que encarou pela primeira vez os 42km em julho, na Maratona do Rio de Janeiro.

Ela ressalta que a corrida não só a ajudou a ficar em forma (hoje mantém seus 60 kg), mas também a adotar um estilo de vida mais saudável, tornar-se mais autoconfiante, conhecer novos lugares e pessoas e fazer novas amizades. Foi assim que resolveu criar um blog para contar suas experiências no esporte (http://desuorepoesia.blogspot.com.br) e unir as duas maiores paixões de sua vida, as letras e a corrida. "Eu tenho formação em letras, gosto de escrever e acabei criando o blog para poder falar das corridas de modo emotivo, literário. Meu grande sonho é ser reconhecida como escritora", conclui. Afinal, "não importa a distância, quantos metros ou mil metros cada um vai percorrer. Importa o que cada centímetro, o que cada passo, o que cada gota de suor significam para quem os está experimentando" (uma crônica de primavera...).

Roda Livre
Especial para o Terra
A professora chegou a pesar 86kg, com seu 1,64 m de altura, até que resolveu tomar uma atitude para mudar. Se matriculou em uma academia, mudou os hábitos alimentares e começou a correr   Foto: Arquivo pessoal/TerraLílian comenta que o começo foi difícil, mas persistiu, em primeiro lugar motivada pelo objetivo de correr uma prova de 5km, a seguir pela vontade de se manter em forma e depois pelo prazer que a prática lhe proporcionou  Foto: Bruno Fernandes/Terra
Em julho deste ano, ela realizou o maior sonho que teve até hoje, ao completar seus primeiros 42km na Maratona do Rio de Janeiro. Na foto, exibindo a medalha da conquista  Foto: Gleice Medeiros/TerraEla ressalta que a corrida não só a ajudou a ficar em forma, mas também a adotar um estilo de vida mais saudável, tornar-se mais autoconfiante e fazer novas amizades. Assim resolveu criar um blog para contar suas experiências e unir as duas maiores paixões de sua vida, as letras e a corrida  Foto: Bruno Fernandes/Terra