MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

sábado, 8 de setembro de 2012

CRÔNICA PUBLICADA NA REVISTA "BORATREINAR", EDIÇÃO DE SETEMBRO




A partir dali, foi só emoção... 40km: e chovia e ventava... 41km: e chovia e ventava... E havia um nó na garganta... 42km: e chovia e ventava... E, enfim, não contive mais minhas emoções: eu chorava... Os 195 metros restantes foram percorridos com o coração, com a emoção, com uma sensação que não dá para descrever... Somente quem sonhou, treinou, doou-se de verdade, sentiu medos e dores é capaz de entender essa sensação... E eu atravessei a linha de chegada... E havia água fria pelo chão e pelo corpo, e gotas de água quente escorrendo pelo rosto...




Etapas... A vida da gente é feita de etapas, e na corrida não é diferente. Estreamos em quilometragens pequenas, tomamos gosto por participar de provas, estabelecemos novos objetivos e...  “boratreinar” para buscar alcançá-los.  E cada etapa conquistada é uma vitória diferente, tem um sabor especial, um significado único.  A autoconfiança vai aumentando, a euforia vai tomando conta, as medalhas e as histórias vão se somando. E, para quem está começando, o percurso de 5km parece tão distante dos tão falados 42,195km de uma maratona... Mas nem por isso são menos difíceis...

No entanto, é só ir visualizando os degraus seguintes, cumprindo as etapas (cada corredor no seu tempo, de acordo com suas necessidades, respeitando o corpo), que a escalada rumo à maratona  se torna possível. Começamos por provas de 5/10km, passamos para uma meia maratona, às vezes intercalamos alguma prova de 10 milhas e, tradicionalmente, os 42km se tornam o próximo degrau a ser almejado por alguns... E é possível chegar a este topo, meus queridos leitores. Sim, é possível! E aos poucos a gente vai treinando, vencendo quilometragens nunca antes percorridas e vendo que o maratonista é um corredor como nós mesmos: ele percorre as ruas, os asfaltos, as estradas, as ladeiras, faz treinos de velocidade, transpira, sente dor, medo, insegurança, ansiedade... Os maratonistas são apenas um pouquinho mais “loucos”...

Ter completado minha primeira maratona, em julho, no Rio de Janeiro, foi uma realização a que não comparo nada do que já fiz até hoje. Ah! Todos nós, “loucos” que corremos, sabemos que precisamos de disciplina, determinação, disposição para queimar muito asfalto, se quisermos alcançar nossos pódios pessoais. E este “pódio” da maratona é simplesmente inesquecível. Enquanto eu percorria aqueles quilômetros que pareciam intermináveis, quando a dor muscular e o cansaço começavam a falar forte, eu me lembrava de toda a dedicação, de todo tempo empregado para me preparar para estar ali, encarando aquele percurso, tentando realizar meu grande sonho para 2012. Foram seis meses de vida  voltados para a Maratona do Rio, da inscrição aos últimos treinos. Foram muitos longões, muita abdicação para chegar até lá... Foram muitos medos, muita ansiedade... Muito controle psicológico também...

Mas valeu a pena cada gota de suor transpirado, cada centímetro percorrido durante os seis meses de preparo, cada contração muscular, cada cansaço físico após os intermináveis longões...  Vale a pena, meus amigos corredores! Vale a pena sonhar, traçar planos, se programar para alcançar o objetivo...   Vale a pena a autossuperação, a autodisciplina... Vale a pena atravessar as linhas de chegada, olhar para trás e dizer para si mesmo:  “Eu sou um vencedor!!! Eu sou um vencedor e faria tudo outra vez!!!”

Ora, não foi isso que vocês sentiram quando atravessaram suas primeiras linhas de chegada? Vocês se lembram dos seus primeiros 5/10km?  Lembram-se da primeira medalha no peito? Aquela sensação indescritível se repete a cada novo degrau alcançado... Os pódios interiores não medem a quilometragem, são resultado de superações que só nós mesmos sabemos que conseguimos alcançar... E esses pódios possuem um valor que nada nem ninguém pode calcular por nós...

É para experimentarmos sensações indescritíveis como essas que eu sempre “grito”: ‘Boratreinar, corredores? ‘Bora correr, amigos? ‘Bora viver, meus queridos leitores!

domingo, 5 de agosto de 2012

CRÔNICA DE UM INVERNO CALOROSO



O que vale mesmo nesta vida de corredor
 são as pessoas que vamos conhecendo 
pelos quilômetros afora... 
As medalhas ficam nas paredes, 
os troféus ficam empoeirados, 
mas as histórias vividas não se apagam... 
E não há boas histórias sem bons personagens...





Meses de julho e agosto... inverno? Frio? Vontade de ficar em casa agasalhado??? Que nada!!! Nesta terra da Garoto e da Moqueca tenho conhecido pessoas que fazem o inverno capixaba tão quente quanto o verão. E olha que quando eu me mudei me disseram que o capixaba não é um povo acolhedor... O capixaba "normal" pode até não ser, mas os corredores capixabas (aliás, os corredores de modo geral) são muito acolhedores. Sinto-me, entre eles, como se já os conhecesse há tempos, quando, na verdade, estivemos juntos pela primeira vez há apenas 8 dias...

O clima daqui já é quente por natureza: o sol esquenta, faz ferver o sangue que já corre descontrolado na corpo do corredor... O céu é de um azul tão puro, que as nuvens parecem tímidas, receosas de aparecerem... E a morada de Iemanjá resplandece toda sua beleza e imensidão... E neste cenário inspirador,  os corredores começam a aparecer: chega um, outro, e mais um e mais outro e, de repente, se alguém grita a palavrinha mágica: "foto", eles se multiplicam... Parecem vir de todos os lados (não sei se saem do mar, se brotam da areia, se materializam-se instantaneamente) e, como num passe de mágica, a foto fica pequena para tanta alegria...

A corrida começa, cada um segue seu ritmo, vai tentar alcançar seus sonhos: diminuir tempo, completar um nova distância, vencer a barreira do sedentarismo, compartilhar os quilômetros com um amigo... Não importa o objetivo, não importa a distância, não importa o pace... Importa que ali somos iguais, sonhadores, lutadores, vencedores... E já corro em terras capixabas reconhecendo algumas pessoas pelo trajeto, assim como sendo reconhecida por elas... E é tão gostoso isto: um sorriso que a gente recebe pelo caminho, alguém que grita seu nome... 

Depois da corrida, há o reencontro: um aqui, outro ali, e mais um e mais outro... E alguém grita: "foto"!!! Pronto!!! A festa está novamente montada...


E estamos ali, participantes de uma mesma história, embora cada pessoa esteja escrevendo o seu enredo particular... Mesmo que a gente faça um papel de personagem coadjuvante na história do outro, é uma presença registrada... Mesmo que a gente seja o personagem principal da nossa história, as outras participações é que preenchem os espaços de nossa vida. Afinal, ninguém é alguém se estiver sozinho neste mundo... 

Obrigada, corredores capixabas, pela alegria que eu tenho encontrado entre vocês!!! 
'Bora correr, povo!!! 'Bora viver!!! 'Bora ser feliz!!!!








terça-feira, 17 de julho de 2012

DE SONHOS... E REALIZAÇÕES... UMA MARATONA VISÍVEL, MUITAS OUTRAS INTERNAS....

Quando comecei a correr, há dois anos e meio, 
trotando com dificuldade entre 4 minutos de caminhada 
e um de corrida muito leve, não imaginava, nem sequer sonhava, 
que chegaria aonde cheguei no domingo, dia 08/07: 
atravessar a linha de chegada de uma maratona....


Hoje, dia 17/07/2012, faz exatamente um ano que completei minha primeira meia maratona (ASICS Golden Four/BH) e, naquele dia, eu ainda não imaginava que um ano depois eu já teria completado minha primeira maratona. Esta, na verdade, começou a ser sonhada no fim do ano passado e passou a ser buscada com afinco a partir de janeiro, quando fiz a inscrição. Foram meses de empenho, de inseguranças, medos e euforias... Passei por crises emocionais, mudanças de Estado e de emprego, lesão no pé, mas uma única certeza me acompanhava: a gana de conseguir correr 42,195km. Com qual objetivo? O de vencer? Mas vencer o que mesmo?

"Qual foi  a sua classificação?" é uma pergunta que tenho ouvido com frequência quando mostro, cheia de orgulho, a medalha que simboliza esta vitória tão subjetiva. Desculpo as pessoas que me fazem essa pergunta, porque elas não sabem o que dizem... Não são corredoras, são daquelas que acham que corredor é louco e que parece não ter mais nada a fazer, quando contamos que fazemos longões que duram mais de 3 horas...

Na verdade, somos mesmo "anormais"!!!! Os que se acham "normais" preferem tecer críticas a saírem de sua zona de conforto entre o trabalho e a casa. São pessoas à beira de um estresse, que dizem não ter tempo para isso  que eu faço... Mas o que eu faço? Eu corro, eu sonho, libero endorfina pelo meu corpo, dou a ele sensações de bem-estar e saúde física e psicológica. "Correndo de quem?" - às vezes brincam... "Correndo de quê?" - eu completo. Da obesidade, do sedentarismo, de uma vida sem objetivos, entravada na engrenagem do dia a dia de um mundo capitalista. 

Ainda bem que eu e muitos outros ousamos ser "anormais" e estabelecemos o dia 08/07/2012 como data para realizar um grande sonho. E fomos à luta.... Foram treinos e mais treinos: longos, tiros, intervalados... e mais longos e outros longos.... Pareciam intermináveis: faziam doer o corpo, colocavam o psicológico à prova... Mas a cada quilômetro que era acrescentado, a possibilidade da realização do sonho se aproximava e nos tornávamos menos inseguros...

E após falar tanto sobre  a maratona no facebook, de ter criado o blog, motivada pela realização deste sonho, eis que o grande final de semana chegou.... Encontro, na véspera, com amigos corredores. Alguns com o mesmo sonho da primeira maratona; outros, experientes, compartilhando suas vivências... E o domingo amanhece chuvoso, frio, tempo entristecido... Madrugamos para chegar à largada... Os corredores vão se juntando e, por mais frio que fizesse, o clima foi se esquentando entre nós... Conhecidos que chegavam, amigos que se abraçavam... E um longo caminho a ser percorrido... 

"... finalmente. Imaginei este dia durante todas as vezes em que tive esperança: (...). Tinha esperança, imaginava este dia e acreditava que não iria ter medo; repetia mil vezes para dentro de mim próprio: não irei ter medo, não irei ter medo: e via com nitidez, claramente, este instante, estes rostos. E acredito que todos os instantes em que imaginei este dia, juntos, somados, são mais longos do que este dia, mas acredito também que este momento, agora, é mais profundo, é um poço infinito e, se eu mergulhasse neste agora, demoraria a minha vida inteira a cair no seu tamanho..." (Cemitério de pianos, p.89).

É dada a largada.... 

"Afasto-me cada vez mais e sei que, daqui a quarenta quilômetros, regressarei. Afasto-me e aproximo-me. Quarenta quilômetros separam-me de estar aqui a ser outra pessoa. E quarenta quilômetros poderão ser toda a minha vida. Todo o tempo desde o momento em que nasci até ao momento em que morrerei dentro de um único momento que poderá ser quarenta quilômetros. O tempo não saberá de mim. Serei outro. Desconhecerei a distância do tempo" (Cemitério de pianosp. 94-95).

Eu tive o privilégio de estar sempre acompanhada por amigos... Cada um vencendo suas barreiras, mas todos com um objetivo em comum... Os quilômetros foram sendo  "derrubados", como gritava meu amigo Sérgio Gonçalves, cada vez que passávamos por uma placa indicando a quilometragem... As passadas foram sendo dadas... E chovia e ventava... E chovia e ventava.... 

"... o som do vento a passar-me pelas orelhas, como o rugido do universo. Talvez como o som de passar por dentro do tempo, de atravessá-lo com o corpo inteiro: os braços e as pernas a atravessarem o tempo, o peito a atravessar o tempo e o rosto a levar toda a eternidade dentro de si" (Cemitério de pianosp.136).

E eu vencia uma maratona paralela - a que se passava em minha mente enquanto corria... Segurava-me para que minhas lágrimas não se misturassem com as gotas de chuva... pelo menos não no início da prova, já que, no final, sabia que seriam inevitáveis... E quando as dores começaram a aparecer, na casa dos 30km, foi esta maratona interior que me sustentou, pois as lembranças de tudo o que havia sido feito para chegar até ali, de todos os momentos de expectativa, de euforia, de superação, diziam-me que eu não podia desistir... A lembrança dos treinos e das superações diárias:

"Mas, quando ia treinar, passava pelas ruas a correr e ninguém podia imaginar o mundo de palavras que levava comigo. Correr é estar absolutamente sozinho. Sei desde o início: na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio. Logo após as primeiras passadas, levantaram-se muros negros à minha volta. Inofensivo, o mundo afasta-se. Enquanto corro, fico parado dentro de mim e espero. Fico finalmente à minha própria mercê. (...) Foi então que aprendi a correr contra as palavras dentro de mim, da mesma maneira que aprendi a correr contra o vento" (Cemitério de pianosp. 129-130).

Eu sabia que, como a maioria daquelas corredores que passavam por mim, ou pelos quais eu passava, eu precisava encarar a dor e o cansaço e seguir em frente.... Eu sentia que só não cruzaria a chegada se algo muito sério acontecesse com meu corpo para me impedir... 

"... os corredores à minha volta (...). Têm nomes e têm infâncias. Sem voltar o rosto diretamente para eles, vejo seus vultos embaciados nas margens do olhar. Nessa mistura de manchas de cor, distingo que também eles não olham para ninguém. Assim como corremos nas ruas (...), corremos dentro de nós. Na meta, a distância e o peso desta maratona interior serão tão importantes  como os quilômetrso destas ruas (...). Enquanto levanto o pé para dar uma passada, o outro pé segura-se ao chão. Se o mundo parasse no instante em que tenho um pé levantado, a avançar, e outro pé assente no chão, poderiam crescer raízes a partir desse pé firme que me segura. Essas raízes poderiam entrenhar-se pelos intervalos de terra das pedras da rua, mas eu não deixo que o mundo pare. Depois de uma passada, outra, outra..." (Cemitério de pianosp. 144-145). 

E os quilômetros foram se somando.... Próximos do km 39, uma injeção de ânimo para o organismo e para o psicológico: avistei uma amiga, alguém que acompanhou toda minha metamorfose - desde minha quase obesidade até hoje - e que, portanto, sabe do significado daquela loucura que eu encarava... Ayeska Lovisi e um pedaço de rapadura... Brinquei com ela, por várias vezes às vésperas da corrida, pedindo-lhe que me levasse um pedaço de rapadura, já que ela estaria lá dando suporte para uma aluna que também faria a maratona pela primeira vez... E não é que a rapadura estava lá? Quando a gritei, num momento em que meu corpo pedia para eu parar de correr, e ela veio toda festiva com o pedaço de rapadura, foi emocionante... Não foi apenas o açúcar da rapadura que me injetou forças para acabar a corrida... Foi o encontro... Como costumo dizer, apesar de cada corredor ter seus objetivos particulares, apesar de cada um ter que vencer sua corrida subjetiva, os encontros, as amizades e as afinidades são o melhor da festa... A partir dali, foi só emoção: 40km... e chovia e ventava... 41km... e chovia e ventava... e havia um nó na garganta... 42km... e chovia e ventava... e, enfim, não contive mais minhas emoções...eu chorava... Os 195m restantes foram percorridos com o coração, com a emoção, com uma sensação que não dá para descrever... Somente quem sonhou, treinou, doou-se de verdade, sentiu medos e dores é capaz de entender essa sensação... E eu atravessei a linha de chegada... 

E havia água fria pelo chão e  pelo corpo, e gotas de água quente escorrendo pelo rosto...



Não posso terminar este texto sobre a maratona sem falar de algumas pessoas em especial. Começo pela importância de Gedair Reis na minha preparação para esta "insanidade". Alguém que esteve presente, em grande parte do tempo virtualmente, incentivando-me, trocando comigo sua experiência de maratonista, ouvindo-me as queixas, os medos, as inseguranças... Tornamo-nos amigos, cúmplices, companheiros de dores e de sonhos... Esteve ao meu lado km a km, fotografou toda a corrida, fez da minha primeira maratona e da maratona de retorno dele, após a cirurgia no joelho, a NOSSA maratona... Nada no mundo me fará esquecer tudo o que você fez e faz por mim, Gedair!!! Perdoe-me as intransigências de uma alma feminina... 

Minha amiga Kátia Cristina: ontem a Yvone Berg deixou um comentário em uma foto minha no facebook e hoje faço das palavras dela as minhas para você:  "Tiro o chapéu e ainda ajoelho para aplaudir". Eu sei o quanto de superação física e emocional você teve que enfrentar para concluir esta maratona. Foi muito mais do que as bolhas nos pés e as lágrimas misturadas aos pingos de chuva... Se todos que ultrapassaram aquela linha de chegada são dignos de ser chamados de maratonistas, você então, minha amiga, é muito mais merecedora disso. Parabéns!!! Parabéns!!! Parabéns!!! Orgulho-me muito de ser sua amiga!!!!


Gleice Medeiros, sua linda: você entrou na minha vida numa brincadeira de troca de mensagens pelo facebook no início deste ano. E quem diria que viraria uma amizade como virou? Fotógrafa, corredora, menina, mulher, mãe, amiga... Uma Donna Moça de suor e poesia: suor transpirado nas maratonas diárias que enfrenta; poesia flagrada pelo olhar diferenciado que a vida lhe deu e a profissão apenas aguçou... Obrigada pelo apoio emocional, pelas acolhidas e por enfrentar a barreira de segurança da maratona para me dar aquele abraço tão caloroso!!!


Sérgio Gonçalves: alguém que foi chegando de mansinho, comentando uma foto aqui, outra ali... Sonhando o mesmo sonho... Lutando para vencer batalhas semelhantes... Confidente... Dirigiu uma campanha: "Diga não ao dramim, viaje de avião.", fazendo-me ver o mundo por outro ângulo bem diferente...rsrs... Obrigada pela força!!! Foi um prazer imenso correr a maratona quase toda a seu lado... E aquele cobertozinho no final? Dispensa comentários...


Foram muitas as pessoas que acompanharam meu sonho e estiveram comigo em alguns momentos virtuais e reais. Cada um sabe de sua participação... Agradeço a todos a torcida, o apoio, as palavras trocadas... Dou meus parabéns a todos os que concluíram esta maratona: pela primeira ou pela enésima vez. De fato, 42km não são para qualquer um, mas, para aqueles que transpiram SUOR E POESIA, com certeza são!!!!

Houve um sonho, várias renúncias, muita dedicação e, enfim, a realização...



"Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra. Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para me deter, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim próprio. Eu quero. Eu sou capaz (...). Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer..." (Cemitério de pianosp. 205). 



Referência completa do livro de onde as citações foram retiradas: PEIXOTO, José Luís. Cemitério de pianos. Rio de Janeiro: Record, 2008.

terça-feira, 26 de junho de 2012

OS APRENDIZADOS DIÁRIOS....



Verdadeira essa frase... Para nós, pobres mortais, amadores do esporte, o dia que não dá certo talvez seja mais importante, no que diz respeito ao aprendizado, à avaliação, do que os dias em que tudo ocorre bem...

Meia Maratona de Juiz de Fora: clima perfeito, trajeto plano, treinamento em dia, descansada, bem alimentada e, no entanto, algo deu  errado. Da metade da prova para frente faltou energia, parecia que simplesmente eu ia parar, como se tivessem me desligado da tomada... E então? Foi minha 5a meia maratona e a pior em tempo e a mais sofrida... Terminei a prova quase chorando, lutando contra o corpo que pedia para parar... Agradeço a companhia de meu anjo da guarda Gedair Reis, se não fosse ele estar ao meu lado, eu teria caminhado em vários trechos... Nada vergonhoso, mas me deixaria ainda mais frustrada, com certeza.

Mas foi, certamente, um aprendizado. Percebi  que nem sempre aquilo que é feito para nos suplementar pode agir a nosso favor... Claro que cada prova é uma prova, cada organismo reage diferente, mas, avaliando o que aconteceu, acredito que o que me "detonou" foi um termogênico que estava tomando. Explico: se fosse uma prova curta, teria sido perfeita! Comecei com bastante energia, num ritmo que para mim era forte e, no entanto, estava confortável. Essa energia extra, mantida por metade da prova, de repente, acabou. Então veio o sofrimento a que me referi.

Aprendi a lição e fui "tirar a prova dos nove" na semana seguinte... Num domingo ensolarado, no litoral, clima quente, saí para o longão mais longão de meu treinamento para a maratona: 36km. Fui de "cara limpa". Mantive um ritmo constante, carregando comigo maltodextrina, gel de carboidrato e fui me hidratando aos poucos. E fiz... 10km, 20km, 30km, 36km... Sofridos? Sim! Sempre é, quando vamos além do que o corpo está acostumado... Difíceis? Sim! Não havia ainda ultrapassado a barreira dos 32km... Mas quando o cansaço batia eu mentalizava a maratona, o sonho, a luta, a gana de conseguir ultrapassar a linha de chegada, a festa, a emoção.... No final, pude constatar que havia sido menos tenso do que a Meia Maratona de Juiz de Fora. Isso me fortaleceu, me energizou novamente e me mostrou que a maratona pode ser possível.

Sei que não vai ser fácil... "Maratona é outro esporte", diz meu amigo Alexandre Magno... Sei das dores e do cansaço... "Termina uma maratona aquele que consegue suportar a dor", disse o corredor Lúcio Lampert, num depoimento publicado no facebook depois da Maratona de Porto Alegre.... Mas sei também da vontade inexplicável de realizar este sonho... Um sonho que se transformou em meta, para a qual me preparo  desde fevereiro/março... Eu respiro essa maratona desde o dia em que me inscrevi para ela... Meus planos se organizam em antes e depois da maratona... As próximas corridas, as próximas viagens, minhas férias de julho... tudo está meio que em suspenso, por causa da danada da maratona... Um amigo, também em treinamento  para os 42km, disse estar "em relacionamento sério" com a maratona... Essa Dona Maratona invade nossos cafés da manhã, nossos lanches, almoços,  treinos, horas de sono... Ela é possessiva, monopolizadora, toma conta mesmo... E se não andarmos na linha, sei lá o que pode acontecer...  Mas eu sei também da companhia e da vibração dos amigos. Alguns, como eu, em busca de completar pela primeira vez a rainha das corridas. Outros, mais experientes, transmitindo confiança, compartilhando experiências, dando apoio e suporte.... Sei que será uma festa antes, uma luta durante e uma emoção indescritível depois... Haverá muitas lágrimas: mescla de dor e emoção... Haverá muito suor... E, com certeza, muita poesia para poder compartilhar com vocês... Haja coração!!!




sexta-feira, 8 de junho de 2012

30 DIAS... NEM MAIS... NEM MENOS...

Dizem que o tempo é relativo, pois bem, também acho que é. Só não sei como ele correrá nesses 30 dias que faltam para a Maratona do Rio... O que são 30 dias? Citando uma música do grupo Biquíni Cavadão: "Quanto tempo demora um mês?", tudo depende de quem espera e por que espera...  


     A exatos 30 dias, no mesmo horário em que começo esta crônica, estarei voando do Rio de Janeiro para Vitória, com uma sensação inédita: a de ter corrido uma maratona. O resultado é impossível prever.... Se estarei voltando sorrindo ou chorando, só mesmo esperando para ver... 
      Mas e até chegar lá? A contagem regressiva começou para valer quando anunciaram os 100 dias para a Maratona, e eles foram passando de modo tão rápido que, agora, resta apenas um mês para a largada... Eu olho para trás e penso se fiz tudo o que podia ter feito para encarar este novo desafio... Às vezes penso que sim; outras, acho que não... Algumas pedras no caminho atrapalharam um pouco, mas a determinação e a vontade de realizar o sonho não me deixaram desistir... Foram tombos emocionais e reais... Alguns que feriram a alma, outros que marcaram a carne... Foram mudanças espaciais e especiais, que me levaram para longe e me trouxeram ao encontro de mim mesma... Foram km e mais km de suor e poesia, de dor muscular e luta contra o psicológico, que muitas vezes dizia para eu parar... 
     Mas, agora, às vésperas desta largada, penso como passarão os dias que faltam: uma meia maratona no próximo domingo, um longão acima de 30km programado para o outro fim de semana e, depois, hora de dosar a quilometragem para não extrapolar, para não querer dos músculos o que eles precisam de reserva para o dia 08 de julho... É preciso paciência e disciplina... É preciso confiança e controle psicológico... Pode ser que este mês passe voando, devorando os dias que restam de treino; ou que ele tartarugueie, alongando a ansiedade que me consome...
       Estou pensando na emoção que será encontrar os amigos que sonham juntos com esta realização... No prazer que será estar ali entre inúmeros corredores, muitos anônimos para mim, mas todos com o mesmo objetivo, percorrendo os mesmos 42km... O pré-evento será uma alegria imensa.... Um almoço com amigos na véspera, a troca de ansiedades, o apoio daqueles que já sabem o que significa correr uma maratona... O evento em si será uma grande incógnita: quanto tempo passarei correndo? como o meu corpo reagirá? como estará meu psicológico? como segurar a emoção durante a corrida para que ela não me atrapalhe? 
     Ah, a emoção!!! O que fazer com ela???? Foram várias as vezes em que nos treinos, só de pensar que estarei correndo a maratona, eu me emocionei.... Sentia um nó na garganta, uma vontade de chorar, de extravasar a satisfação contida no peito... Uma emoção mista: de ver que eu venço um sedentarismo, que eu me torno uma pessoa mais saudável, mais feliz.... Emoção de me sentir uma vencedora todas as vezes em que levanto às 5h30 da manhã para treinar... Emoção a cada km a mais que eu vou acrescentando a meus treinos... Emoção de me sentir uma super mulher quando completei meus primeiros 32km... Sim, sou uma mulher de emoções, e muitas vezes me deixo dominar por elas... Se isso é  bom ou ruim? Só posso dizer que depende da situação... E que sei que a emoção vai minar de meus poros junto com o suor, pois é ela que me faz ver a poesia da vida, a poesia das corridas, a poesia das passadas compassadas dos corredores, a poesia manifestada nas feições às vezes contorcidas de quem atravessa a linha de chegada...     
     Será uma verdadeira maratona de emoções e, por mais que eu saiba da necessidade de controlá-las durante a corrida, não vou querer sufocá-las... Vou deixar que elas venham para que, independente do resultado, eu possa dizer tudo o que sentirei ao experimentar - e ver ser experimentada pelos amigos - esta tão desejada corrida... 




"Não vim até aqui / Pra desistir agora... Minhas raízes estão no ar / Minha casa é qualquer lugar / Se depender de mim / Eu vou até o fim / Voando sem instrumentos / Ao sabor do vento / Se depender de mim / Eu vou até o fim..."

terça-feira, 22 de maio de 2012

UMA PONTE... UMA CORRIDA... ALGUNS AMIGOS... E MUITA, MUITA POESIA....

     Em fevereiro, após ler uma matéria sobre a Corrida da Ponte do ano passado, publiquei uma crônica sobre a expectativa em relação a essa prova. E a expectativa era de uma corrida muito difícil. Terminei meu texto com as seguintes palavras: "Espero, no dia 20 de maio, após concluir a corrida, sentar e escrever para vocês um texto cujo teor já imagino: sim, TINHA uma ponte no meio do caminho, mas, assim como a "pedra" do Drummond, ela foi deixada para trás, foi superada..."
     Pois bem, tinha uma ponte por quase todo o percurso e foi um prazer imenso passar sobre ela e perceber que os monstros do calor e da pouca hidratação se mantiveram afastados este ano. Não foi uma prova difícil, pelo contrário, foi minha Meia Maratona mais tranquila, entre as quatro que já realizei. A cada corrida estamos um pouco mais preparados, nos tornamos mais experientes e a tendência é que realmente as provas comecem a ser tornar menos pesadas... E o receio de que fosse uma prova difícil fez com que eu fosse com a intenção de curtir a prova e sofrer o menos possível... E assim foi... E, com certeza, foi uma prova linda!!!! E é sobre esta beleza que eu desejo falar. Começo pelo cenário:

’Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...

     Parafraseando esta estrofe de Castro Alves, num contexto completamente diferente do empregado por ele, posso dizer que era possível presenciar o abraço do céu com o mar no horizonte, numa linda manhã de outono carioca. Bastava desviar um pouquinho que fosse a atenção da corrida e olhar para qualquer um dos lados que se presenciava um espetáculo natural.
     E nós, ali, insignificantes em meio a tanta grandiosidade. Não foi uma ou duas vezes que me peguei agradecendo à vida por aquela oportunidade, foram várias essas vezes... Em outros momentos, pegava-me distraída com os pássaros que sobrevoavam a ponte. Cheguei mesmo a pensar ter visto um albatroz, o rei do oceano, planando lindamente sobre nós, asas imensas... E, novamente, me recordei do poema de Castro Alves:

Albatroz! Albatroz! águia do oceano, 
Tu que dormes das nuvens entre as gazas, 
Sacode as penas, Leviatã do espaço, 
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.


    E é como se tivéssemos asas, ali, sobre o mar, correndo em busca de superação, de realização de sonhos, de um encontro íntimo conosco. E seguimos... Aquela multidão de pessoas rumo ao mesmo destino, embora cada uma tivesse trilhado diferentes caminhos para chegar até ali.... Pessoas de vários lugares, diferentes estados, diferentes credos, diferentes gostos, diferentes idades, mas todos com a paixão pela corrida em comum. Paixão que tem aproximado muitas pessoas, que tem feito delas amigos virtuais e, posteriormente, amigos reais. E dos encontros e reencontros que aconteceram neste fim de semana, também tenho algo a dizer...

     Tudo começou quando resolvemos marcar um encontro de corredores na véspera da prova para uma confraternização. E os amigos virtuais começaram a se organizar para o encontro, criou-se uma grande expectativa e, no entardecer do sábado, estávamos lá, tornando-nos reais, como saídos da tela dos computadores para o mundo concreto. Interessante é que tive a sensação de que já conhecia muito algumas daquelas pessoas... Quantas vezes não havíamos trocado uma frase de apoio um com outro? Quantas vezes não tínhamos feito um desabafo? Relatado uma ansiedade em relação aos treinos, aos sonhos como corredores? Quantas vezes não tínhamos curtido uma foto uns dos outros? O mundo virtual é bonito quando fazemos dele um meio para tornar real bonitos encontros e reencontros... 
     E os laço vão se fortalecendo... Fui recebida na casa de um amigo, cujo contato também começou pela internet... Difícil agradecer tanta atenção e carinho... Tive a companhia de outro amigo por toda a corrida alguém que tem sido por demais especial em minha vida nos últimos tempos... Difícil não ver em cada um desses contatos um pouco de poesia, um pouco de emoção... cada abraço trocado, cada sorriso esboçado, cada pose para foto, cada palavra de apoio, cada passada compassada...
     O que vale na vida é tudo isto: são os quilômetros percorridos, que nos garantem uma vida mais saudável; são as conquistas pessoais, que somente cada um sabe o valor que possuem; são as amizades que vamos fazendo pelo caminho; são os momentos felizes que compartilhamos...







    E ainda há quem pergunte o que a gente ganha correndo... É preciso mesmo responder? Esta crônica eu ofereço a vocês, meus amigos. Que possamos atravessar muitas pontes pelos nossos caminhos, juntos ou separados. E que saibamos, acima de tudo, saborear o momento da travessia... Porque a vida não passa de uma travessia, às vezes difícil, às vezes nem tanto, mas sempre muito, muito, muito linda!!!!
Viver! / E não ter a vergonha / De ser feliz / 
Cantar e cantar e cantar / A beleza de ser / Um eterno aprendiz... /  
Ah meu Deus! / Eu sei, eu sei / Que a vida devia ser / Bem melhor e será / 
Mas isso não impede / Que eu repita /  
É bonita, é bonita / E é bonita...