MINHAS PRÓXIMAS CORRIDAS

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

DOCE, MESMO SEM CHOCOLATE


Dez Milhas Garoto: pela quarta vez corro a corrida mais tradicional do Espírito Santo. Este ano ela teve uma sabor especial, pois fechou um ciclo de preparação para a Maratona da Bahia no próximo domingo (24/08). O objetivo era fazê-la em ritmo forte, coroando o final do treinamento, colocando à prova tudo o que foi desenvolvido por quatro meses de foco, disciplina, determinação.

Consegui alcançar meu objetivo de concluir os 16 km em 1h25.  Meu melhor tempo nessa prova havia sido 1h28, em 2011, ou seja, na primeira vez que fiz as Dez Milhas. Nos dois anos seguintes o tempo aumentou. Baixar três minutos pode parecer pouco, mas é significativo.  Na verdade, diminuí 13 minutos em relação ao ano passado. Foi uma vitória. Foi preciso imprimir um ritmo forte, difícil para mim. Não corri no meu limite, pois não quero que seja sofrimento em excesso. É preciso que haja prazer. Não quero chegar ao final (ou nem chegar) e cair de exaustão.

Na verdade, não gosto de velocidade. Já determinei que não é o tipo de meta que buscarei em minha vida de corredora. Prefiro as distâncias e quero mesmo é me enveredar pelas dificuldades de trajeto. Mas as Dez Milhas estavam na planilha como um treino de velocidade, então, missão cumprida. Fiquei muito feliz pela meta alcançada. É um resultado que mostra que para colher frutos é preciso plantar a semente e cuidar dela para que ela cresça adequadamente. Cuidei da semente a cada vez que saía para treinar tiros, morro, areia, longos... Cuidei cada vez que chegava em casa exausta e amanhecia com os músculos doloridos... Cuidei cada vez que ia treinar, apesar da vontade de descansar.

Mesmo sem chocolate, o sabor pós-corrida foi doce. Doce pela conquista, doce pelas amizades, doce pela estrutura que as treinadoras Helayne e Aryane prepararam para mais de 200 alunos. Doce por ver a satisfação da maioria dos colegas. Exaustos, mas, sobretudo, felizes. Alguns experimentando pela primeira vez a distância dos 16 km, muitos estreando nas Dez Milhas, outros superando seus tempos e aqueles que superaram o corpo que queria vencê-los. Gosto muito de ver tudo isso, de sentir com os outros o que eles sentem, porque eu também já senti, sinto e continuarei sentindo.

O universo da corrida é muito peculiar. Vemos e vivemos experiências incríveis. Gosto de ler os depoimentos dos corredores, cada um experimentando algo muito ímpar, mas paradoxalmente muito coletivo. Lágrimas de dor, de superação... Sorrisos de vitórias tão íntimas... Nós na garganta por metas não alcançadas... Cada um sabe a dor e a delícia de estar ali e de colocar a medalha no peito. Ontem, quando estava a poucos metros da linha de chegada, passei por um corredor amparando um outro que lutava para conseguir completar sua prova. Fico imaginado o prazer que foi para os dois atravessar aquela linha. Somente eles para explicar, mas imagino...

Enfim, correr nos faz mais leves, mais felizes. Se, por algum motivo, a corrida provocar outros sentimentos que não esses, é preciso repensar o que estamos fazendo conosco...

quinta-feira, 24 de julho de 2014

EM TEMPOS DE MARATONAS POR AÍ...



Faltam 30 dias... Um mês, apenas isso...


Há aproximadamente 3 meses eu comecei minha contagem regressiva rumo à Maratona  da Bahia. Foram muitos treinos intensos: tiros no calçadão, subidas ao Convento, quilômetros pelas areias fofas da Praia da Costa, Itapoã e Itaparica... E longões...  Ah, os longões! Amo-os e os odeio ao mesmo tempo... Acho que conheço as curvas da Rodovia do Sol próximas à Vila Velha como ninguém... Passar por elas correndo, vencendo o sol, vencendo o corpo, vencendo a cabeça é de deixar marcas nas solas e na carne...

Já disse em outras oportunidades que eu gosto mesmo é das corridas longas. Não sei se sei explicar os motivos. Talvez porque seja um prazer mais demorado, mais suado, que exige de mim um tempo, uma dedicação, um esforço diferentes... E é a preparação para essas corridas que constroem a gente. A corrida em si é “apenas” o momento da consagração de tudo o que foi feito por semanas e semanas. Gosto muito deste trecho do Dr. Drauzio Varela, acho que me identifico com essa comparação da maratona com a vida, com nossa luta diária, nossas necessidades de constantes superações:

"A maratona tem uma  ligação direta com a vida, com aqueles momentos em que você é obrigado a fazer um esforço para chegar ao fim. Ela dá essa resistência, de você saber que está difícil, mas que vai ter que conseguir de qualquer maneira. A vida é assim: você passa por fases duras, mas persiste porque sabe aonde quer chegar. A maratona também te dá uma sensação de que você pode. Quarenta e dois quilômetros? Quem pode correr isso, pode outras coisas também." 

Quem já se dedicou aos treinos para uma maratona sabe do que estou falando. É uma entrega muito grande. A vida é quase toda direcionada aos treinos. Tem que se alimentar bem, descansar bem, ter paciência, persistência, vencer a dor e a cabeça que, às vezes, pedem para o corpo parar.

Já fiz duas maratonas. Em momentos muito diferentes, em contextos muito diferentes. Treinei para elas como o momento pedia ou permitia. Mas nunca me entreguei  tanto aos treinos como o momento e o contexto atual estão me permitindo fazer agora. E por isso esses 3 meses que se passaram foram tão significativos.

Houve alguns momentos de fraqueza, mas houve os de vitórias. Em alguns dias me sentia a corredora mais fraca do mundo; em outros, uma verdadeira heroína.

Houve alguns momentos de desânimo; outros muitos de pura confiança. Tem dia que o corpo não coopera; tem dia que a cabeça não ajuda. Mas no dia que dá tudo certo a gente esquece os dias não muito bons.

Houve muitos, muitos momentos de companheirismo; outros tantos de solidão...  Treinar com um grupo focado no mesmo objetivo é algo fantástico. Saíamos juntos, nos encontrávamos no final, cada um com sua história. Mas na hora da batalha, a luta é mesmo solitária.

E houve, sobretudo, aprendizado...

Aprendi que fico muito mal humorada quando sinto que não fui bem em um treino. 

Aprendi que somos um bando de loucos que se for pra correr às 7h está pronto; se for pra correr às 13h está pronto; se for pra correr às 3h30 da madruga está pronto.

Aprendi que a Rodovia do Sol não poderia ter um nome melhor quando se passa correndo por ela às 13h-14h.

Aprendi que subir o Convento 3 vezes pode, no início, causar uma “crise de asma”, fazendo parecer que o pulmão vai sair pela boca. Mas que subir mais 3 vezes em outro dia; mais 3 vezes em outro; em outro e em outro me preparou para as últimas 4 subidas que fiz sem sofrer ou, pelo menos, sem querer  um pulmão novo ao fim do treino.

Aprendi que os treinos de tiros são imensamente sofridos. Doem! Doem muito! Pra caramba! Mas me tornam um pouquinho mais resistente a cada dia.

Aprendi que as areias das praias de Vila Velha têm seu encanto, mas têm também o poder de fazer um corredor suar muito quando se atreve sobre elas. Exigem de nós músculos fortes e sangue frio...

Aprendi que correr com companheiros mais fortes, apesar de ter me frustrado na primeira vez que fiquei para trás (muito para trás), ensina a manter a cabeça fria e a focar em meu próprio ritmo, corpo e limitações.

Aprendi que meu corpo tem limites, mas ele permite que, com constância de treinos e respeito, sejam ultrapassados aos poucos.

Já aprendi muito e ainda tenho a aprender até o dia da prova.  Serão mais 4 semanas de preparação. Serão duas provas significativas pelo caminho: a Meia do Rio e as Dez Milhas Garoto.  Dois treinos de luxo, antes da tão esperada e suada Maratona.

A base foi construída. Agora é hora da lapidação. E sei que o mês passará correndo. Logo, logo, voltarei para escrever da prova em si. Pretensões? Não muitas. Fazer uma boa prova, sem sofrimento desnecessário. Quem sabe baixar um pouquinho meu tempo. Mas, sobretudo, sentir, novamente, a sensação indescritível de se cruzar a linha de chegada de uma maratona e dizer: eu consegui! Nós conseguimos!!!

quinta-feira, 5 de junho de 2014

POR QUE CORRER UMA MARATONA?



    Por saúde? Não, o desgaste físico da preparação e da corrida em si extrapola muito o conceito de correr por saúde física.
    Por pódio? Pelo menos não para mim, pobre mortal das corridas...
    Por obrigação? De jeito nenhum!!!
    Então por quê?
    Porque eu quero!
    Porque um desafio como este me mantém VIVA, motivada! Preciso chegar a minha casa depois de um dia desgastante de trabalho e ter outras perspectivas além de dormir e simplesmente voltar para o trabalho no dia seguinte...
          Porque a sensação de atravessar a linha de chegada e dizer EU CONSEGUI é só minha e de mais ninguém!
        Porque a disciplina que a preparação exige de mim coloca-me à prova todos os dias... E com isso eu me sinto um pouquinho melhor comigo mesma a cada treino...
     Porque o turbilhão de emoções que esta experiência desperta é incomparável: ansiedade, insegurança, adrenalina (antes da prova); euforia e endorfina (nos quilômetros iniciais); às vezes até raiva (lá pelos 30 quilômetros e você se pergunta: “que DIABOS eu estou fazendo aqui??? “); além daquela determinação no final: “quer saber? É questão de honra terminar essa porcaria!!!”. É mesmo um caso de amor e ódio como muitos outros da vida...
       (Correndo a Maratona da Disney, ao lado de meu amigo Sérgio Gonçalves,  quando chegamos ao quilômetro final, foi  dando um nó na garganta e eu me concentrando nas passadas já doloridas; então ele disse algo como: “Tá difícil segurar...” Aquelas palavras foram suficientes para eu entender que eram as lágrimas da superação que já não cabiam mais no reservatório dos olhos... Naquele momento não precisava de mais nada para que nossa comunicação acontecesse perfeitamente. Ali, em silêncio de palavras, mas em conversa de passadas no asfalto e de batidas do coração, eu entendi tudinho o que ele dizia e, principalmente, sentia o que ele sentia...)
     Choro só de escrever essas palavras... Choro quando estou sozinha fazendo um longão... É o momento da minha catarse! É o momento da minha conversa comigo mesma, da minha discussão com minhas fraquezas e medos... Tenho que decidir o que eu quero; tenho que superar as barreiras que me são colocadas pelo corpo e pela mente... Tenho que ser cada vez mais inteira em momentos como este...
          A maratona me faz ser mais completa à medida que me faz ser mais forte, mais determinada. Drauzio Varela diz a respeito disso: 
"A maratona tem uma  ligação direta com a vida, com aqueles momentos em que você é obrigado a fazer um esforço para chegar ao fim. Ela dá essa resistência, de você saber que está difícil, mas que vai ter que conseguir de qualquer maneira. A vida é assim: você passa por fases duras, mas persiste porque sabe aonde quer chegar. A maratona também te dá uma sensação de que você pode. Quarenta e dois quilômetros? Quem pode correr isso, pode outras coisas também."
          É por isso tudo e muito mais (que eu não consigo expressar em palavras) que eu corro uma maratona. Jamais gravaria na minha pele algo que não fosse tão significativo; jamais tatuaria em mim algo que não fosse tão à flor da minha pele...




segunda-feira, 5 de maio de 2014

POIS QUE VENHA A MINHA TERCEIRA MARATONA!!!

"A maratona tem uma  ligação direta com a vida, com aqueles momentos em que você é obrigado a fazer um esforço para chegar ao fim. Ela dá essa resistência, de você saber que está difícil, mas que vai ter que conseguir de qualquer maneira. A vida é assim: você passa por fases duras, mas persiste porque sabe aonde quer chegar. A maratona também te dá uma sensação de que você pode. Quarenta e dois quilômetros? Quem pode correr isso, pode outras coisas também." (Dr. Drauzio Varela)

Faz tempo que eu não escrevo aqui no blog. Não posso dizer que foi por falta de motivação, porque as experiências que vivi na Disney, com o Desafio do Dunga, deveriam ter vindo parar aqui. Só que o tempo foi passando, passando e eu acabei não escrevendo sobre elas... Mas agora tenho uma nova motivação e um novo desafio que me fazem voltar a escrever: minha terceira maratona em vista - Maratona Caixa da Bahia (24//08).

Acabo de me inscrever e, de hoje a exatos 112 dias, pretendo fazer minha terceira maratona. E, para tanto, vou procurar me preparar da maneira mais consciente possível. Tenho a preocupação de estar bem para encarar os treinamentos: hoje mesmo fui colher sangue para exames e fui a uma consulta com uma nutricionista e, no ano passado, fui ao cardiologista. Sei que o esforço dos treinamentos não é pequeno e que me arriscar sem saber como está a saúde é perigoso. Temos visto mortes de corredores sendo anunciadas em maratonas, e ser displicente é minha última intenção.

Pois bem, é hora de focar no objetivo!
  • A meta é completar a maratona bem, sem sofrer demais. Não tenho pretensões de tempo (a Dona Fascite não me permite isso), quero ser capaz de suportar o calor de Salvador e sobreviver a algumas ladeiras que provavelmente serão inseridas no trajeto.
  • É hora de ter disciplina alimentar: perder alguns quilos desnecessários e estar bem nutrida, com músculos fortes para aguentar os treinos e me recuperar bem deles.
  • É hora de direcionar os treinos. O planejamento deixo para minhas treinadoras, mas a disciplina, a determinação e a meta são minhas. Sou eu que vou percorrer os 42 km, levando comigo todos os meus anseios e pensamentos... Sou eu que tenho que dosar meu ritmo, a fim de que o corpo não grite; mas ao mesmo tempo tenho que provocá-lo para que ele se torne mais resistente... E saber qual é a dose certa disso talvez seja a diferença entre completar uma maratona bem, sofrendo ou lesionado... (Sei muito bem o que é não conseguir chegar à maratona, lesionando-me durante a preparação...).
Maratona do Rio 2012

Quando escrevia aqui no blog sobre minha preparação para a primeira maratona (Maratona do Rio/2012), havia muita ansiedade, mas havia medo também. Insegurança por nunca ter encarado aquela distância correndo. Hoje não tenho mais medo de uma maratona, mas de forma alguma a desrespeito. Sei que se treinarmos é possível completar os 42,195 Km. Mas uma maratona nunca é igual a outra. A pessoa que vai correr sua segunda, terceira... enésima maratona não é a mesma que correu a anterior... É outro corpo que se prepara, mais experiente, mais desgastado, talvez um pouco limitado aqui ou ali... É um corpo que passou por muitas outras experiências e que agora dita um ritmo diferente (mais forte? mais fraco? não importa, mas com certeza, diferente)... É um outro treinamento. É uma outra corrida. É um outro objetivo.

"Então você está pensando em correr uma maratona, hein? Não bastam os seus problemas, os seus compromissos, o trabalho, a faculdade, a(o) namorada(o), os filhos, o síndico, o cachorro do vizinho, e você ainda quer correr uma maratona! Vai se esborrachar treinando durante meses, aguentar sol, chuva, vento, frio, calor, dor aqui, dor ali. Nenhum parente ou amigo vai levá-lo a sério, e alguns até ficarão ofendidos quando você recusar um convite porque tem que treinar. O médico vai reprová-lo -  por que você não faz caminhadas, que é muito mais seguro? ... blablablá, ou natação, que é muito mais completo? ... blablablá, blablablá. E quando você finalmente correr o raio da maratona, chegará horas depois do primeiro colocado, rezando para não escorregar naquele tapete de copinhos plásticos e sendo ignorado pelos gatos pingados que sobraram na plateia. Quer saber o que eu penso disso? Ótima ideia!!"*

Uma ótima ideia porque a maratona continua sendo, para mim, a Rainha das Corridas e  por ela eu mudo o que tiver que mudar. Eu me disciplino ainda mais. Pode ser que quando eu experimentar uma ultramaratona ela se torne minha rainha, mas agora é da maratona que eu sou súdita. Sei de tudo o que tenho que respeitar para cortejá-la, mas ainda assim eu a quero demais!!!

"A maratona não são 10, 15 ou 21 km.
A maratona é sempre 42 quilômetros e 195 metros, nem um a mais, nem um a menos.
É a corrida por detrás de todas as corridas.
A rainha das distâncias, o sonho de todo corredor que digne ser um corredor.
Não é uma questão de velocidade, sim de vontade e resistência, e também de estratégia, em que o mínimo erro pode ser o FIM.
Uma corrida contra si mesmo, contra seu corpo, sua mente e sua sombra.
É a prova definitiva do caráter e da virtude.
Vai atravessar, em poucas horas, todo o espectro das emoções humanas... ilusão, ansiedade, desespero, medo, dor, raiva, coragem e orgulho!
Não vai ver o muro, porém, mais tarde ou cedo, ele vai estar lá.
É o final perfeito para coroar meses de árduo treinamento e, ao mesmo tempo,
não saber se vai chegar.
Ninguém esquece a primeira maratona, muito menos a segunda, ou a terceira...é uma façanha que vai contar sempre, mas que é só sua, ÚNICA E SEM REPETIÇÃO, porque cada corredor é diferente !!!!"*
                                                            Maratona da Disney 2014

Pois que venha a MARATONA INTERNACIONAL DA BAHIA!!! Chegarei a ela preparada, se nenhuma pedra intransponível aparecer em meu caminho. Foi dada a largada!!!

*Trechos retirados do facebook de amigos corredores.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

"CONHECE-TE A TI MESMO..." - Texto publicado na Revista AG do jornal A Gazeta (05/01/14)


          Essa deveria ser a grande aprendizagem do homem nos tempos atuais... Somos levados a dominar tantas tecnologias, a guardar inúmeras senhas, a estar por dentro dos últimos acontecimentos, a fazer check-ins e check-outs (reais e virtuais), a curtir e compartilhar nossa vida e a dos outros... Vivemos um tempo em que as pessoas olham mais para seus celulares e ipods do que para aqueles com quem se divide a mesa... E se não estão acompanhadas, estão com fones de ouvidos, imersas em seu mundinho, ritmando uma vida cada vez mais estereotipada...
          Na verdade, tudo isso nos isola de nós mesmos. Qual o tempo que nos sobra ou que dedicamos a pensar nas nossas emoções, nas nossas necessidades mais íntimas (e não me refiro a nada que seja "comerciável")? Qual o tempo que tiramos para ficar em silêncio, estabelecendo um diálogo (ou seria um monólogo?) com nós mesmos?
          Esse silêncio incomoda, põe-nos
em contato com um eu que deseja se expressar, mas que é abafado e silenciado pela vida moderna... E logo buscamos um som, uma imagem para nos entreter e nos resgatar dessa imersão...  O silêncio interno grita; e em vez de ouvi-lo, de socorrê-lo, de nos socorrermos, fugimos... Voltamos para o mundo do barulho, da tecnologia, do tempo apressado e deixamos que outros cuidem de nós... Os psicólogos, terapeutas, personal isso, personal aquilo que deem conta de nossos fantasmas, de nosso eu oculto, porém verdadeiro.

           E enquanto eles realizam seu trabalho, tentando fazer com que nós nos conheçamos, nós vamos seguindo: bebemorando com os amigos, tomando um remedinho para dormir e depois um energético para ficarmos acordados... Um antidepressivozinho para encarar o mundo sem pirar; um laxante para aliviar as gasturas intestinais e um Engov depois da noitada do fim de semana...
          E assim vamos sendo levados pela vida... Mas que 2014 seja um ano com menos depressões, suicídios, remédios, bebidas, entorpecentes em geral... Que seja um ano em que as pessoas façam mais o que gostam e menos o que simplesmente dá dinheiro...  Que seja um ano com menos fones de ouvidos e mais escuta de si mesmo (porque o que tem que ficar martelando na cabeça é a nossa voz interna e não a dos outros)...  Que seja um ano com menos ipods e mais autoconhecimento (porque a vida aparente do outro não pode ter mais importância do que as nossas emoções)...
          Que seja, enfim, um ano mais essência do que aparência; em que o ser humano olhe-se mais, cuide-se mais e leve a  vida de verdade, não se deixando ser, apenas, levado por ela...